CULTURA DA PREPARAÇÃO
- Randal Fonseca
- 26 de out. de 2023
- 4 min de leitura

Os estudos nos ensinam que desde os primórdios, filósofos revelam que as pessoas em geral procuram um padrão significativo no curso dos acontecimentos, descrito como “necessidade universal de alcançar a realização individual”.
A cultura ocidental, calcada na individualização e tecnicidade, apresenta uma característica marcada pela recusa a fatalidades, vontade de controle e de dominação. A partir de certo momento histórico, tudo o que escapa ao controle técnico passa a ser intolerável, inaceitável e isso não é uma excentricidade de momento, pelo jeito veio para ficar.
Na busca pelo padrão significativo as pessoas tentam alcançar metas, mas dependem, em sua esmagadora maioria, que alguém lhes diga onde está a meta a ser alcançada. Com liberdade de agir e de posse de um “norte magnético”, as pessoas trabalham com afinco para concretizar seus propósitos. A liberdade de pensar e expressar é, pois a base que sustenta a motivação e entusiasmo para trabalhar em direção à finalidade (que introjetar).
A “liberdade” para escolher é o meio pelo qual os indivíduos se autogovernam de acordo com a própria consciência e convicções, e isso é operado substancialmente pelos conflitos criados pela influência de desejos, em relação à meta. No desempenho de suas atividades laborais, em busca da realização individual, aparece o medo e a consequente insegurança. Esses são sentimentos humanos pouco louváveis, mas inevitáveis no âmbito de uma cultura que rejeita a fatalidade. Um plasma ideológico que deslegitima a ideia de destino e resignação. Nas sociedades industrializadas há o desejo pungente de controle para se chegar a eficácia.

A eficácia nas ações está diretamente relacionada ao desejo de reconhecimento; as pessoas
reconhecidas institucionalmente por seus feitos têm orgulho vivaz de autoestima e autoconfiança.
O desejo e o reconhecimento constituem, portanto a mola que impulsiona os indivíduos a participarem com habilidade nas respostas a desastres. Eventos indesejáveis são episódios garantidos, sem data, local ou magnitude para ocorrer e que abrem oportunidades para ações sociais com valores universais compreendidos por todos, como liberdade, solidariedade, responsabilidade, justiça e respeito a si, ao outro e ao ambiente, formando a base dos esforços cooperados e orgulho da participação. As interações sistêmicas, por sua vez, fomentam a independência. Os valores percebidos e praticados se transformam no alicerce da convivência nas comunidades. As pessoas querem exercer o direito da liberdade para alcançar metas e melhorar a autoestima que coaduna com a autoconfiança, e para isso, precisam se superar. Esses princípios da participação levam ao sentido de pertencimento. Imperativo categórico.
Independentemente da situação econômica das organizações, cada vez mais a moral obriga a lutar incansavelmente contra os riscos operacionais. A proposta deve ser de melhorar sempre as condições de trabalho, investir em políticas de mitigação e medidas de gestão associadas à “qualidade total”, mas, que, na essência, circula como inegável capital moral e de educação.
Quais elementos podem atingir a imagem da empresa? Até que nível pode haver exigência de segurança? Para avançar na solução do problema que coloca as vulnerabilidades a riscos socioculturais em perspectiva, se torna necessário reforçar a avaliação regular das atividades, dar ênfase à “melhoria” do fator humano e da função pessoal, ou seja, da qualificação, do treino, da experiência, do desenvolvimento de habilidades, do conjunto da obra social.
Sabe-se que o homem e suas negligências contribuem na ordem de 80% dos incidentes industriais. A responsabilidade de responder a eventos indesejáveis é a nova fronteira a ser cruzada por uma gestão determinada a garantir a confiabilidade das instalações produtivas: os trabalhadores nela, são tanto parte do problema como da solução. Em função desse postulado, o Programa Estratégico da Gestão de Emergências, decorrente de um planejamento austero e consistente, é o fenômeno central. Para isso, é preciso acarrear uma atenção sistemática ao capital humano e à realização das pessoas, ao respeito aos indivíduos e à valorização do papel que desempenham no contexto: empresa/comunidade, adicionando, por iniciativa própria, o controle de riscos. Isso resulta em que todos no ambiente laboral se sintam respeitados e reconhecidos como indivíduos responsáveis, conscientes de seus valores.
Assim, a uma administração tecnocrática deve suceder um manejo de reconhecimento (sistema de recompensa, negociação coletiva, formação permanente, informação, respeito aos compromissos firmados, punição contra abusos ou assédios morais, valorização dos papéis profissionais, desenvolvimento das competências etc.) sem o qual o clima social e humano não acompanhará as tendências individualistas que se apresentam nos diversos cenários mundiais neste século. Fatores que, por conseguinte desempenham um papel, com frequência, decisivo na recuperação de desastres e prevenção da inerente evolução para catástrofes e tragédias.

CONCLUSÃO
O progresso no campo da gestão de emergências não se limita à formulação ou obediência a códigos e normas de conduta, mas que se balize por “educação e recursos” com planejamento estratégico e diretrizes de controle, das instâncias da regulação, dos métodos de correção permanente dos erros com sistema eficaz que não falhe além da primeira falha, que não aumente problemas (as patologias institucionais e as condutas inaceitáveis).
Fatal é o erro que negligencia a dimensão humana que subestima tudo aquilo que pode favorecer o bom ambiente nas equipes, as motivações, a satisfação dos profissionais, a autoestima, a valorização dos papéis em âmbito empresarial, a percepção de se sentir protegido por seus pares, treinados e qualificados para evitar agravar condições indesejáveis.
Vulnerabilidades devem ser mitigadas, riscos precisam ser controlados, respostas devem revelar o nível de educação e recursos, e os custos precisam ser calculados e estabelecidos em orçamento por tipo de ameaça a ser objeto das medidas de correção: gestão incondicional, ampla, participativa, interativa, eficaz. Gestão de Emergências é isso: cultura da preparação.
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