TUDO O QUE JÁ SE SABE
- Randal Fonseca
- 10 de jul.
- 7 min de leitura

“No Brasil cerca de 3,9 milhões de pessoas vivem em 13.297 áreas de risco. Dessas localidades, cerca de quatro mil são classificadas como de “risco muito alto”, de deslizamentos e inundações, segundo a agenciabrasil.ebc.com.br, que acrescenta ser o número de áreas classificadas como de “risco alto” de 9.291. Esses dados podem ser visualizados no painel do Serviço Geológico do Brasil, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, explicou o coordenador executivo do Programa de Cartografia de Áreas de Risco Geológico, Júlio Lana, geólogo pesquisador do Serviço Geológico (SGB).”

“O Sudeste tem grande parte caracterizado por áreas montanhosas, sujeitas a instabilidades de encostas. Também há áreas hidrográficas assoreadas, como no Rio Grande Sul com ocupações nas margens dos rios, o que sujeita a sofrer com inundação”.
AMEAÇAS RECORRENTES
Os efeitos das ameaças podem ser diferentes quando atingem populações estratificadas — aqueles grupos sociais que não estão no radar dos benefícios das políticas públicas. O poder público falha em adaptar as localidades, pois não atua em promover moradias seguras e meios para evitar novas tragédias. Resta, portanto, à sociedade civil assumir seus desígnios e elaborar estratégias para defender e socorrer os grupos impactados, mas não apenas para proteger contra perdas materiais, mas efetivamente para salvar vidas.

ALERTAS RECORRENTES
Diversos artigos JGE, desde maio de 2023, postulam soluções técnicas e científicas para lidar com as devastadoras perdas provocadas pelos impactos ambientais.

Será que dentre as autoridades há ainda alguém que não sabe que os deslizamentos de encostas e inundações resultam da desestruturação e ocupação desordenada da terra?
A questão recorrente é se há alguma dúvida de que as chuvas causam inundações por falhas nas drenagens dos rios assoreados e pelos desmatamentos das matas ciliares?

LIÇÕES RECORRENTES
Segundo o Dr. Graham Dwyer, da Universidade de Tecnologia de Swinburne, Austrália, “quando se está diante dos riscos naturais há que ter em mente que o futuro da aprendizagem já chegou e, a Gestão de Emergências aprendeu com movimentos globais”.

As demandas das vítimas dos impactos naturais não podem ser silenciadas, pelo contrário, elas trazem experiências que contribuem para embasar as propostas de mudanças.
ALERTAS PARA MUDANÇAS
Os sistemas de prevenção e atenção às populações estratificadas estão há muito no centro da gestão de emergências. Como sabemos, essas ordenanças permitem velocidade, eficiência e escala. Mas, nos últimos anos, ficou evidente que as formas tradicionais de apoio à recuperação de desastres falham em promover a resiliência das localidades.
FALHAS RECORRENTES
As falhas são bem conhecidas porque tradicionalmente operam por meio de hierarquias baseadas em poder, com o governo e suas agências no topo e as comunidades na base.
Embora os discursos sejam bem-intencionados, a estrutura calcinada reforça um modelo de comunidade como indefesa e por isso, receptora contumaz de políticas benevolentes dos poderes. Além disso, esse modelo perverso é esbanjador, pois direciona fundos para “soluções” padronizadas e cheias de vícios, em vez de direcionadas às necessidades locais.
Esse modelo enfraquece as habilidades e se afasta das oportunidades de conhecer as mazelas locais, apenas reiterando as desvantagens dos grupos estratificados.
Nunca a necessidade de mudar esse modelo foi tão urgente. Mas sempre foi desafiador.
Os registros de fenômenos climáticos precisam estar associados à redistribuição das comunidades que ocupam locais impróprios, apenas porque os planos de ocupação do solo, os bem-conhecidos "planos diretores engavetados" falham em cumprir com as premissas e, essencialmente aproveitam os índices para culpar a natureza indômita, justificando que os fenômenos estão a atingir todos os continentes.

DESCULPAS RECORRENTES
É simples permanecer em modo reativo diante de desastres de causas naturais. Então, de posse dos dados e das evidências, por quais razões os responsáveis não assumem a necessidade de unir os projetos inovadores e se concentram em implementar sistemas consistentes com as necessidades presentes e futuras, em vez de proferir as contumazes escusas empoeiradas.
MODELO TRANSCENDENTE
Embora muitos desafios sejam conhecidos, sempre há ocorrências transcendentes que, pelo ineditismo e somatória de efeitos recorrentes dificultam a prevenção. Essas particularidades sugerem ser preciso aprender mais sobre esses novos desafios, para utilizar os novos tipos de resposta. A disciplina acadêmica Gestão de Emergências, já apresentou e enfatizou que a resiliência a desastres precisa ser liderada pela comunidade e não pelas autoridades, ficando as políticas públicas na posição de apoiar as possibilidades de soluções para os diferentes tipos de fenômenos naturais globais.

Nos recentes registros, conforme o Relatório de Incidentes Graves, esses perigos têm potencial de ser "concomitantes, consecutivos e compostos": inundações criam desafios complexos para as etapas de preparação, resposta e recuperação das perdas e danos.
AMEAÇAS E SOLUÇÕES
Uma abordagem equilibrada reconheceria que há poucas definições consensuais sobre o que a aprendizagem realmente significa, além de melhorar a partir daquilo que deu errado.
Apesar desse enquadramento de fracasso, os arranjos para a gestão de emergências permanecem paralisados, no pressuposto, mas sem efetividade na prevenção, preparação, resposta e recuperação. Isso sugere que ao aplicar essas premissas poderia haver mais acertos do que erros em termos de políticas, procedimentos e práticas para operacionalizar a estrutura. Uma análise de relatórios de inquéritos públicos relacionados a desastres naturais mostra que as recomendações têm sido exatamente as mesmas por décadas.
Diferente dos anos 1950, quando essa foto da inundação foi tomada, estamos hoje numa era em que as informações ocorrem em tempo real e desmascaram os eufemismos que referem serem atualmente os eventos “sem precedentes”. Não são.

No contexto atual se exige que as lições acadêmicas ensinem o gestor de emergência a “aprender como aprender” com as lições que as localidades ensinam.
Essas populações são os professores que fornecem a base para o aprendizado colaborativo entre agências governamentais, serviços de emergências, iniciativa privada e lideranças comunitárias, já que os perigos são repetitivos, acumulativos, simultâneos e crescentes.
Ao planejar o gestor de emergências passa a “ver as coisas que os políticos não veem."
A NATUREZA DA INUNDAÇÃO
Em termos simples, inundação ocorre quando uma área seca fica coberta de água: só isso.
As inundações podem trazer alívio para ecossistemas expostos a seca prolongada, mas podem ser consideradas como desastre natural quando envolvem altos custos de recuperação. Não há duas inundações iguais, pois dependem da intensidade, duração, local e população atingida.
AS CAUSAS DAS INUNDAÇÕES
Os principais fatores das inundações fluviais são as chuvas torrenciais com a impermeabilização do solo que impede a absorção das águas. Outro fator é o assoreamento das calhas fluviais que provocam o espraiamento para as áreas cujas matas ciliares foram removidas e ocupadas. Um fator natural se dá quando na foz o rio encontra as marés elevadas do oceano. Embora esses fatores citados sejam conhecidos, os planejadores desviam as justificativas ou apenas fingem desconhecer.
AS INFORMAÇÕES RECORRENTES
Inundações repentinas podem ocorrer por chuvas curtas e intensas, principalmente quando atingem áreas urbanas cujo sistema de drenagem falha em redirecionar a quantidade de água para os oceanos, e a condição piora quando o nível do mar sobe rapidamente por ações dos ventos e da maré.
AS LIÇÕES RECORRENTES
As enchentes costeiras ocorrem quando um sistema de baixa pressão ou fortes ventos soprando do oceano forçam o nível do mar a subir acima do normal, criando uma maré que inunda as áreas baixas próximas a cursos de rios que desaguam em áreas oceânicas.

ONDE OCORREM AS ENCHENTES
As enchentes ocorrem em diferentes regiões com impactos que variam dependendo da combinação de vários fatores presentes na localidade, por isso as pessoas podem vivenciar as enchentes de maneiras diferentes. Ao examinar as circunstâncias geográficas é possível determinar se há probabilidade de enfrentar repentinas inundações fluviais ou costeiras, ou a combinação desses tipos de inundação.
As enchentes fluviais ocorrem em áreas relativamente baixas, adjacentes a córregos e rios.
Nas extensas regiões planas, as inundações fluviais podem se espalhar por milhares de quilômetros e durar várias semanas. Os alertas são emitidos com meses de antecedência.

A exemplo das regiões serranas, como do Rio de Janeiro e Itajaí, as inundações podem ocorrer rapidamente, e os avisos podem ser de apenas algumas horas.
UMA HIPOTESE
Se dois rios que cruzam uma região inundam simultaneamente com certa regularidade, é possível examinar os históricos de sazonalidade e projetar o potencial de frequência e, se o nível de vulnerabilidade é igual para ambos. Por suposição vamos considerar que um dos dois rios espraia, atingindo uma área residencial em que vivem funcionários, supervisores, engenheiros e membros da diretoria da principal organização local. O outro rio ao encher alaga a região agrícola, onde são produzidos bens de consumo da comunidade. Os dados demonstram que esses eventos podem ocorrer em qualquer época do ano, e provocar mortes e doenças devido a contaminação da água potável e alimentos estocados.
O planejamento estratégico deverá considerar a desocupação de algumas áreas sujeitas à inundação e reposicionar os setores do comércio, indústrias e residências. Também, há que colocar em perspectiva a possibilidade de interrupção dos serviços públicos e de ter que acionar equipes de resgate, preparando o pessoal da medicina no hospital, além de local para alojar pessoas.
Dependendo da época, poderá ocorrer a perda da safra e isso implicará em obter recursos a serem trazidos de outras localidades. A magnitude das inundações não oferece ameaça à vida e não atinge diretamente as organizações, mas causa perda na produtividade e alguns trabalhadores poderão perder seus bens domésticos.
Inundações repentinas, também conhecidas como inundações terrestres, podem ocorrer em praticamente qualquer lugar onde haja uma precipitação relativamente curta e intensa, como durante uma tempestade. Como resultado, o sistema de drenagem não tem capacidade ou tempo suficientes para absorver a chuva torrencial. Embora as inundações repentinas sejam geralmente pontualmente localizadas, elas representam uma ameaça significativa devido à imprevisibilidade e duração normalmente curta.
Na região agrícola as perdas dependem da época do ano e:
Recursos podem ser trazidos de outras áreas.
O risco à vida é menor.
Não há interrupções de serviços públicos essenciais.

O impacto e danos das inundações são variados, substanciais e de longo alcance.
O gestor precisará planejar as ações de resposta e projetar quais os recursos públicos poderá utilizar, e os serviços que apresentam potencial de ficarem impossibilitados de agir.
Para a área residencial o gestor deverá projetar que independentemente de inundação, em qualquer época do ano, há o potencial de ocorrer:
Desmoronamentos de edificações
Desocupação de áreas devido a fogo
Demanda por abrigos
Obstrução de pontes, ruas e rodovias.
Interrupção dos serviços como:
Bombeiros
SAMU
Equipes de resgate
Hospitais
Acesso a alojamentos temporários
Equipe de controle de doenças
Equipe funerária
Controle de contaminação:
-da água potável
-dos estoques de alimento

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