SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL - SSO
- Randal Fonseca
- 13 de dez. de 2024
- 16 min de leitura
Atualizado: 17 de dez. de 2024
No início do século 20 ocorreram profundas mudanças sociais nas questões do trabalho.

Os sindicatos alertavam sobre as precárias condições laborais nos setores industriais.
Nesse âmbito, o conceito de Saúde e Segurança Ocupacional (SSO) assumiu novos contornos nos países industrializados. Os norte-americanos, desde 1913, estavam protagonizando mudanças ao redigirem leis e normas técnicas direcionadas à proteção dos trabalhadores.
A partir daquele ano, os códigos e leis passaram a ser atualizados com base em dados estatísticos produzidos pelo National Safety Council.
Foi a partir de 1930 que no Brasil a Organização Internacional do Trabalho (OIT) passou a aferir os riscos sociais associados a evolução das tecnologias e do consumo.
Nos EUA, com base nos dados estatísticos levantados pelo NSC, a OSHA – Occupational Safety and Health Administration passou a redigir as leis e normas técnicas e, desde então (1971), com base nas letras jurídicas da OSHA, o NSC, até hoje, desenvolve os conteúdos de cursos voltados a qualificação de trabalhadores para indústria, comércio e serviços.

Paradoxalmente, não há amparo aos trabalhadores solitários e pesquisadores em campo.
TRABALHO SOLITÁRIO E PESQUISA DE CAMPO
Quase um século após a criação da OIT, e mais de meio século desde a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), não há regulamentação da profissão de cientista e nem códigos para a segurança nas atividades de campo; da mesma forma, estão ainda sem amparo legal as atividades profissionais realizadas em caráter solitário e remoto (Home-office).
No caso dos pesquisadores científicos a lacuna relacionada aos direitos trabalhistas pode estar a resultar da Pós-Graduação que é percebida como um fim acadêmico e não como um trabalho. Em outros termos, a Pós-Graduação é considerada como uma etapa transitória na vida de um cientista e, com base nesse conceito canhestro, os pesquisadores de campo não estão previstos nas recomendações da OIT. Há, contudo, que se reiterar, ser a pesquisa de campo aquela que realmente tem a finalidade de comprovar o que se aprende nos ambientes controlados dos laboratórios.
De nada serve um arqueólogo conhecer as teorias procedimentais se não acessar a cultura material e interpretar o passado, não para ilustrar a História, mas como um fim em si.
CONQUISTAS DOS SETORES PRODUTIVOS
As profissões que hoje são reconhecidas conquistaram a condição na medida em se organizaram em sindicatos e associações de classe. Por exemplo, as atividades voltadas ao meio-ambiente começaram a se organizar a partir da década de 1960, quando teve início a Ciência Ambiental dentro da Sociologia (Sociologia Ambiental).
O “threshold” (limite inicial) se deu a partir da foto da Terra nascendo por trás da Lua, tomada em 1968 pelos tripulantes da Apolo 8. A imagem suscitou profunda reflexão e modificou a forma de enxergar a vida humana no universo: nasceu o Dia da Terra.

A visão da Terra passou a ter valor agregado: a partir daí, o “olhar” humano tem preço.
VALOR AGREGADO
Os profissionais das Ciências Ambientais têm como objetivo trabalhista observar indícios, fatos, ou levantar questões que suscitem refletir sobre os ecossistemas em todas as suas vertentes, como a biodiversidade, bioeconomia, ecologia etc. O objeto funcional do ambientalista é promover a conservação da natureza e recuperar áreas degradadas, focando o desenvolvimento sustentável.
Desde os anos 1970, o binômio Meio Ambiente passou a ser interpretado como um conjunto de unidades ecológicas que é a composição de toda a vegetação, animais, micro-organismos, solo, rochas, atmosfera, oceanos e corpos hídricos interiores subterrâneos ou no espaço sideral. O meio ambiente compõem cinco esferas: estratosfera, atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera.
TRABALHADORES AMBIENTAIS

Os ambientalistas profissionais atuam nas interrelações da vida com o planeta Terra.
Essa atribuição, tanto laboral como de estudos e pesquisas, não era reconhecida até meio século atrás. A de se convir que outras profissões também não existiam e atualmente são indispensáveis, a exemplo dos analistas e técnicos de informática, programadores, astronautas e mergulhadores. Outras profissões ainda surgirão e buscarão o reconhecimento prevalente na malha de eventos das sociedades complexas, desenvolvendo especializações para acompanhar as mudanças que ocorrem como parte dos ciclos planetários, pela dinâmica da vida e pela curiosidade humana.
ALTERAÇÕES AMBIENTAIS

Há uma preocupação latente com as alterações climáticas severas que podem estar a resultar das atividades humanas. No entanto, os ambientes fabris insalubres estão desaparecendo nas sociedades com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Em contrapartida, o que se tem em perspectiva, são os ciclos de alterações naturais do planeta que, segundo alguns ambientalistas, podem estar nas órbitas baixas (LEO), médias (MEO) e geoestacionária (GEO) – vamos ouvir os cientistas que vão para campo.
IR ALÉM DOS SINDICATOS

Essa percepção sobre a diversificação de condutas está em expansão e não tem limites.
Os modos de consumo precisam estar incluídos nas leis da produção industrial. Com isso, novos temas entram nos debates e fornecem elementos para forjar novos conceitos, estabelecer novos princípios, desenvolver novas técnicas e influenciar na multiplicação de especializações científicas e operacionais, voltadas aos fenômenos sociais, naturais, ambientais e siderais: todos intimamente relacionados – sem exceção.
Vamos tomar como exemplo os biólogos marinhos que pesquisam aves boreais no topo das ilhas oceânicas, e os arqueólogos subaquáticos que pesquisam a cultura material (verdadeira ou imaginária) em todos os corpos d’água.

Especializações científicas submarinas como a Arqueologia suscita mistérios, quase místicos.
As pesquisas empíricas, com diversificações e dúvidas da real intenção, passaram dos tradicionais estudos acadêmicos teóricos para ocupar posição de destaque na formulação de políticas públicas em âmbito internacional, com a prevalência de eleger e/ou punir políticos, instituir ou destituir autoridades, com força nas organizações socioeconômicas multilaterais que incluem aquelas que tratam das profissões que, no Brasil, não estão amparadas pela CLT.
FALHAS NO AMPARO LEGAL

As atividades científicas de campo foram ampliadas e os trabalhadores solitários também.
Muitas profissões, até a publicação deste artigo não estavam amparadas pela legislação.
Assim, à revelia das normas e das leis laborais muitas profissões científicas estratégicas (indispensáveis) operam em todos os ambientes, incluindo subterrâneos e subaquáticos.
EXPERIÊNCIA PESSOAL (1)
Em 1978, vários pioneiros do mergulho frequentavam a minha residência na Urca, Rio de Janeiro (Rua Candido Gaffrée, 12). Esses entusiastas reunidos em uma das salas da minha morada decidiram nela fundar a Associação Profissional de Atividades Subaquáticas (APAS).
A APAS passou a contar com a ajuda de um advogado pro bono (serviços jurídicos gratuitos) e a publicar o periódico ALTA PRESSÃO, abrindo discussões trabalhistas que envolviam “soldadores”, “cortadores” e congêneres, confrontando a artimanha governamental que justificava o subemprego dos brasileiros sob o argumento de não formar mergulhadores no Brasil por falta de escolas especializadas.
O advogado desmontou essa tese ao questionar as autoridades sobre “como cortadores e soldadores chegam até os pés das plataformas para cortar e soldar?”
Após cinco anos de embates jurídicos, em 1983, o Sindicato Nacional de Trabalhadores em Atividades Subaquáticas e Afins (SINTASA), obteve o CNPJ nº 30012447/0001-41 ...
EXPERIÊNCIA PESSOAL (2)
Ainda, minha morada na Urca (RJ), mergulhadores amadores que lá se reuniam, adotaram o mesmo critério da APAS, e fundaram a ABMA – Associação Brasileira de Mergulho Amador.

A CIÊNCIA SUBMERSA
Nessa mesma época (anos 1970) a Universidade Santa Úrsula (RJ) passou a oferecer o curso de graduação em Biologia Marinha. Concomitantemente, os Ministérios da Marinha, das Minas e Energia e do Trabalho formaram uma “Comissão” com vista a detalhar as atividades profissionais.
Essa iniciativa resultou na revisão e publicação da NR15 pela então DTM – Delegacia do Trabalho Marítimo, sob a coordenação do saudoso Dr. Gerôncio de Araújo Jorge.
EXPERIÊNCIA PESSOA (3)

A morada na Urca (RJ-1974): sede da 1ª escola de mergulho amador, da APAS e SINTASA.
O então almirante do Primeiro Distrito Naval no Rio de Janeiro me convocou na qualidade de porta-voz do mergulho amador para integrar o Grupo-tarefa liderado pelo Dr. Gerôncio de Araújo Jorge, junto a então DTM – Delegacia do Trabalho Marítimo.
A DTM definiu:
a) o que era mergulho amador
b) o que era mergulho profissional, em águas rasas, profundas e de pesca de lagosta.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) reconhece atualmente:
781705 Mergulhador
631015 Mergulhador - pescador de lagosta
781705 Mergulhador profissional (raso e profundo)
A ORGANIZAÇÃO
A partir de 1982 as lideranças que se formaram no âmbito amador do mergulho fundaram a ABMA e a partir de 1987, modificaram a opção, extinguiram a ABEMA e afiliaram escolas e operadoras de mergulho às organizações internacionais nos EUA, como SSI, NAUI, PADI, NASDS, e na França, à CMAS, sob as prerrogativas do WRSTC, dedicado à segurança mundial do mergulho recreativo.
Os principais objetivos do WRSTC - World Recreational SCUBA Training Council é desenvolver e aprovar os padrões mínimos de formação de mergulhadores a nível mundial.
As normas implementadas globalmente foram essenciais para as questões regulatórias que possibilitaram tornar o turismo subaquático parte essencial da economia de muitos países.

Estrutura hoteleira das Maldivas
INCLUSÃO DE PROFISSÕES
No código de profissões do MTE existe apenas a referência 221105 Biólogo.
Embora conste a especificidade “mergulhador pescador de lagostas”, paradoxalmente, o Código, não inclui, por exemplo, a profissão de “biólogo marinho” e “arqueólogo subaquático”.
ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM RISCOS
Diante do exposto, há que se definir os métodos de esses profissionais e cientistas tecnicamente se “prepararem” para lidar com os riscos inerentes a atividades profissionais e investigações subaquáticas. A perícia subaquática é uma especialização “até embaixo d’água”.
Assim, ao se considerar que a SSO está no cerne das leis e normas trabalhistas, as lideranças acadêmicas, podem e mesmo devem assumir o protagonismo para balizar as competências técnicas-operacionais dos pesquisadores e de suas equipes nos trabalhos submersos, como parte da formação universitária, em todas as suas nuances e peculiaridades operacionais.
PARA REGULAMENTAR
Não compete aqui estarmos a analisar a fisiologia das intercorrências, mas constatar que há necessidade de se adotar metodologias que possibilitem, não só melhorar a prevenção de incidentes e males laborais nas atividades de campo, mas também prevenir danos ambientais, perdas patrimoniais e disjunções operacionais que contribuem com atrasos e outros prejuízos contabilizados em demandas jurídicas e inconformidades processuais, por falha nas estratégias.
POR ONDE INICIAR
Até hoje o National Safety Council tem a função precípua de levantar dados e publicar estatísticas de lesões e males decorrentes de todas as atividades laborais e de suas interações sistêmicas.
Como parte de suas atribuições, o NSC acompanha o desenvolvimento tecnológico e analisa como as inovações influenciam nos métodos de trabalho e na vida, em todos os ambientes sociais.
Os relatórios de inspeções e as estatísticas apontam para a necessidade de melhoria nas normas técnicas e leis que precisam acompanhar a inovação nas metodologias operacionais. Da mesma forma que o NSC, o WRSTC mantém constante vigilância sobre a “segurança” ou a falha dela no universo das atividades subaquáticas, e promove pesquisas e intervenções para, continuamente, aprimorar a formação dos instrutores e dos métodos de ensino, de forma a acompanhar o desenvolvimento das tecnologias empregadas nas atividades submersas.
Dentre as atividades estão a Arqueologia Subaquática e a Biologia Marinha, por exemplo.
DADOS ESTATÍSTICOS
As questões trabalhistas e de segurança laboral nas operações abeiradas a corpos d’água não fazem parte do “currículo” acadêmico e, por isso não há dados que cirurgicamente apontem onde, o que, e como os pesquisadores precisam melhorar os métodos de segurança e resposta a emergências nas pesquisas de campo. Os pesquisadores egressos das universidades brasileiras não trazem em seus currículos elementos para sequer “pensar” sobre esses fatores.
O que se vê e o que se sabe, é que as técnicas e métodos que aprendem em sala de aula não vão além daqueles adotados pelos técnicos de segurança do trabalho e dos supervisores de segurança no mergulho, que incluem apenas os procedimentos de primeiros socorros básicos.
Nada há que inclua a coordenação e o comando para orientar a integração de diferentes agências que, por suas naturezas altruístas operam de forma independente. Ou seja, as pesquisas e trabalhos em campo seguem algures.
Os exemplos citados servem de base para incluir todas as demais profissões que atuam nos mais diferentes ambientes, incluindo o sideral.
IMPLEMENTAÇÃO DA SSO
Sabemos que não há obrigatoriedade legal de os técnicos de segurança do trabalho a atuarem em home-office, como tampouco acompanhar trabalhadores solitários e cientistas envolvidos com pesquisas de campo, históricas, sociais ou ambientais.
A formação dos Técnicos de Segurança tem sido a mesma para todas as atividades laborais, ou seja, não existem currículos específicos, por exemplo, para supervisionar a arqueologia subaquática ou o home-office. Essas e muitas outras colocações evidenciam a necessidade de revisar os programas de segurança no trabalho para adequar a todas as especificidades laborais.
CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
Os programas acadêmicos em pós-graduação falham em não contar com currículos para os pesquisadores desenvolverem seus planos estratégicos. Eles devem ser os próprios agentes de segurança e os responsáveis por responder a emergências naturais e antropogênicas.
EXPERIÊNCIA PESSOAL (4)
Arqueologia Subaquática no ambiente insular oceânico
A política nacional no início da década de 1980, se encontrava à guisa de uma ditadura militar. Então, era audaciosa a proposta de conduzir estudos históricos a partir de documentos que pudessem produzir provas materiais com investigações subaquáticas simultaneamente realizadas nos dois pontos da costa brasileira visitados por Vespúcio (Cabo Frio e Fernando de Noronha).
DESAFIO TITÂNICO
O Projeto de Busca e Localização do Possível Sítio do Naufrágio da Capitânia de 1503, intitulado “América de Américo”, com origem na cidade de Cabo Frio (1983) seria complementado com pesquisas de arqueologia subaquáticas no arquipélago de Fernando de Noronha, mas para os historiadores tradicionais isso era uma ameaça ao secular projeto “Brasil de Cabral”, sustentado à época, pelos eruditos da inquestionável historiografia lusitana.
Meu amigo historiador, Márcio Werneck da Cunha escreveu um livro homônimo: América de Américo (Editora Ágama: 2004). Em seu livro Cunha descreve as peripécias: que ele viveu em Cabo Frio e que eu vivi em Fernando de Noronha. Minha participação no projeto da Capitânia de 1503 me levara a Fernando de Noronha onde, como mergulhador, me envolvi “profundamente” com as questões ambientais, que como vimos, nunca podem estar descoladas do social e do cultural.

Meu saudoso amigo historiador Márcio Werneck da Cunha – idealista erudito.
INVESTIGAÇÕES SUBAQUÁTICAS SEM ERUDITISMO
Sensibilizado pela condução do monumental levantamento e estudo documental que o Márcio W. da Cunha desenvolveu, decidi empregar recursos próprios, financeiros e operacionais, para conduzir as investigações submersas, sem contar com a participação da Arqueologia Brasileira, que preferiu ficar à margem, ou seja, desempenhando apenas o seu papel acadêmico ortodoxo.
As investigações documentais conduzidas por Cunha, descritas em minúcia no seu livro (2004), traziam à luz das expectativas os elementos que justificavam acreditar que o naufrágio da Capitânia de 1503 poderia ser verdadeiro. Então, se o derrelito fosse localizado em Fernando de Noronha, a arqueologia subaquática, ou algo similar (o conceito dessa especialização da arqueologia era oficialmente inexistente em 1983).
A Arqueologia teria diante de seus investigadores a oportunidade de ingressar em uma pesquisa com visibilidade mundial. E, poderia produzir a provas materiais que consubstanciariam, de forma incontestável, os relatos da Quarta Viagem, colocando em xeque a historiografia tradicional.
Nenhum apoio institucional foi obtido.
Os leigos, nós, os interessados como cidadãos em desvelar uma identidade cultural calcada numa história mais provável do que construída politicamente, não podíamos, porque, segundo os ritos processuais, essas investigações eram, com exclusividade, legadas à ciência, aos acadêmicos – com toda razão, acrescentaríamos hoje. Os não acadêmicos se quisessem bandear pelas revoluções pretendidas, deveriam se tornar acadêmicos e, se inserirem nas hierarquias pungentes, de onde, à época, nada fluía – e ainda hoje não fluem – como veremos adiante neste artigo.
Fiz insólitas tentativas junto a vereadores, prefeitos e outras autoridades constitucionais. Nada feito. Assim, em atitude de desafio às instituições calcinadas e inoperantes, me propus, como já disse, a autofinanciar o projeto, e atrair a atenção da imprensa, e/ou uma autoridade antenada.
Este panorama revela aspectos peculiares de como os eruditos, em geral fechados em seus gabinetes, perdem oportunidades de participar em investigações científicas que se originam nas esferas dos leigos – dos cidadãos, da sociedade civil, dos abnegados com interesses austeros.
OS MAIS ELEVADOS IDEAIS

A condição minha e de Márcio W. da Cunha, foi reiterada por Eduardo Bueno
No período entre 1983 e 1997, Cunha recebeu menções honrosas, como os títulos “Doutor Honoris Saber” emitido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1987), Cidadão Cabofriense (1989) e o prêmio “Golfinho de Ouro” pela expressão cultural de seus estudos no Estado do Rio de Janeiro (1989), particularmente no município de Cabo Frio.
Eu permaneci em Fernando de Noronha até fevereiro de 1997, quando, depois de ter obtido todas as autorizações oficiais: Marinha, Ministério da Cultura, IBAMA, Relações Exteriores, dentre outras instituições afins, incluindo as de financiamento (Diário Oficial Nº 76; 25 ABR 1994), para conduzir o projeto, compelido pelas pressões políticas do relevante poder local, estadual e federal, desisti da minha proposta de mergulhador interessado; tendo por cinco vezes sofrido ameaça de morte.

Por precaução, as atividades da Fundação Américo Vespúcio foram encerradas e deixei o mergulho como parte do meu passado, e novas atividades entraram em perspectiva.
RESCALDOS POSITIVOS
Embora os eruditos acadêmicos e as autoridades constituídas tivessem optado em se manter a margem das operações de campo: um paradoxo, segundo as prerrogativas da
Convenção da UNESCO, o projeto América de Américo foi bem-sucedido em seu ineditismo, como a primeira investigação da Arqueologia Subaquática em área de preservação ambiental.
O Parque Nacional Marinho já estava decretado (5 de outubro de 1988) e convênios de Cooperação Técnica já haviam sido firmados com a UFPR, UNISINOS e Syracuse University, NY, sob a coordenação da Fundação Américo Vespúcio e operação da Águas Claras Produções Submarinas – hoje Águas Claras Fernando de Noronha (atualmente sob outra administração).
Conscientes das profundas diferenças entre o conceito da caça ao tesouro e Arqueologia Subaquática, todas as prerrogativas legais foram cumpridas. O Projeto América de Américo foi encaminhado pelo então ministro Sérgio Telles, das Relações Exteriores, à vice-presidência da Comissão Nacional Espanhola para o V Centenário – Doc: 134, SADC L00 236, de 02/07/1992:
“Urgentíssimo: (...) trata-se de iniciativa pioneira em matéria de investigação arqueológica submarina a ser desenvolvida em Unidade de Conservação com tecnologia de pesquisa compatível com a proteção ambiental”.
O Programa da Fundação Américo Vespúcio abrangeu outros projetos, como o Estudo Comparativo das Ilhas Oceânicas Brasileiras, protagonizado pelos departamentos de Geologia das Universidades Federal do Paraná e Vale do Rio dos Sinos. Esses estudos alimentaram o BNDO, Banco Nacional de Dados Oceanográficos, cumprindo o Acordo da Jamaica – do qual o Brasil é signatário com o compromisso de informar dados da Zona Econômica Exclusiva do Mar Territorial de 200 Milhas (Montego Bay, 1986).

A Fundação Américo Vespúcio obteve destaque na ECO Rio 1992.
O aspecto inovador incluiu as varreduras submarinas com SIDE SCAN SONAR (magnetômetro de prótons) e Radar de Perfis Subterrâneos, a título de Cooperação Técnica com a Universidade de Siracusa, NY; por meio do CNPq/CAPS, intermediados pela UFPR.

A equipe foi consagrada no Congresso da SAB (1993); João Pessoa – Paraíba.
OS MALVADOS E SUAS MALVADEZAS
O Projeto de Busca e Localização do Primeiro Naufrágio em águas do novo continente, ao ficar em evidência na mídia, se tornou alvo de críticas e represálias pelo governo territorial de Fernando de Noronha. Essas pessoas que deveriam estar cooperando, se colocaram à sombra para fustigar.
As adversidades típicas implícitas a esses tipos de iniciativas, foram acrescidas com diuturnas perseguições por detratores inflexíveis. Nem um dia se passou sem que os servidores do PARNAMAR-FN se abstivessem de criar e impor empecilhos e ameaças. Tanto fizeram que após as festividades de 1992, tivemos de encerrar o Projeto, arquivando todos os resultados. Para sempre.

EXPERIÊNCIAS PESSOAL (5)
Um aspecto interessante sobre os arqueólogos, segundo o Prof. Pedro Paulo Funari, está relacionado ao estereótipo do herói, ou seja, um personagem mítico que povoa o imaginário coletivo de ser, com paralelos hollywoodianos, sem respaldo na vida real.

Os arqueólogos subaquáticos aguçam não apenas a fantasia popular, mas também a da mídia, que aguça o imaginário coletivo de que navios soçobrados estão cheios de tesouros.
Os arqueólogos, no sentido amplo da investigação científica, buscam vestígios da cultura material em todos os ambientes, com a proposta de estudar a história por meio de resquícios, ruínas, destroços, restos alimentares e resíduos.
O estudo dos fragmentos ajuda revelar meios da vida dos humanos que nos antecederam.
Esses vestígios quando submersos integram uma parte importante etapa das migrações ao redor do planeta. Afinal a navegação e a vida nas proximidades do mar e de águas interiores deixam registros que são oportunidades de investigar o passado submerso.
PERSONALIDADES

Em Noronha (1993) estive por três meses com Jacques Mayol.
Jacques Mayol esteve em Noronha com uma equipe financiada por um banco da Bélgica.
O objetivo da equipe era avaliar (estudar) o comportamento dos golfinhos de Noronha diante de uma mulher grávida, deixada sozinha no mar sobre uma prancha na enseada do Carreiro de Pedra (a Baía dos Golfinhos). Segundo Mayol, os golfinhos rotatores (Stenella longirostris) como mamíferos inteligentes e sensitivos seriam atraídos e dariam apoio a mulher na medida em que a gravidez evoluísse e, ao final auxiliariam no parto, que ocorreria diretamente dentro do mar.

Ao se examinar elementos da Cultura, relativamente a pesquisas científicas em campo, é possível perceber uma forte associação com “aventuras” e com o mito do herói.
OS DESAFIOS DAS PESQUISAS EM CAMPO
De onde menos se espera ocorrem as surpresas que pesquisadores precisam estar prontos para lidar. Neste caso, na época, o governador do arquipélago enxergou a possibilidade de obter alguma vantagem financeira e colocou a condição de somente autorizar a continuidade da experiência se o banco belga pagasse a ele uma vultuosa quantia. Não pagaram.
A informação da tentativa de corrupção foi comunicada ao governador de Pernambuco e aos repórteres da Globo. Mayol e a equipe desistiram de Noronha e foram para o Havaí.
LIGAÇÕES EXTERNAS
Essa experiência pessoal possibilita demonstrar como os cientistas alinhados a abnegados, que, com empáfia, abandonam seus laboratórios, salas de aulas e auditórios, onde vicejam preceitos de segurança e saúde ocupacional, se lançam, segundo Pedro Paulo Funari, como um Indiana Jones que, de forma indômita, promove aventuras cinematográficas.
Embora sendo uma celebridade mundial a serviço das pesquisas médicas, o mergulhador apneísta Jacques Mayol deixou legados de sucesso e insucesso. Vamos lembrar: em 1976, Mayol foi o primeiro homem a alcançar os 100 metros de profundidade utilizando apenas o ar dos pulmões. Por sua habilidade, ele ficou conhecido como "homem-golfinho" e foi estudado por muitos cientistas interessados na fisiologia humana sob a água e ele mesmo conduziu estudos.
Em um só fôlego Mayol mergulhou a 60 metros, em 1966, e a 100 metros, em 1976, e a 105 metros, em 1985, quando na ilha de Elba bateu seu último recorde.

IMENSIDÃO AZUL
O filme Le Grand Bleu (1988), foi dirigido por Jean Luc Besson, tendo Jacques Mayol atuando como coordenador técnico das filmagens subaquáticas.
OS DESAFIOS TRABALHISTAS NAS ATIVIDADES DE CAMPO
Sem SSO, pesquisadores como Mayol enfrentam desafios antropogênicos.
O princípio gerencial de que eventos indesejáveis ocorrem por ter havido “falha na segurança” está ultrapassado, ou seja, não se pode garantir que ao investir no trabalho nada errado ocorrerá. Ações criminosas não estão restritas a bandidos comuns, pois incluem autoridades corruptas.
Eventos indesejáveis (de toda ordem) ocorrem a despeito e à revelia de toda a segurança.
É preciso sempre ter um Plano Estratégico de Gestão de Emergências (PEGE) alinhado a todas as atividades (ver o exemplo de Jacques Mayol). Embora possa haver redundância, pois as organizações empregam engenheiros e técnicos de segurança, existe um hiato no que concerne aos métodos de conduzir a resposta. Essa afirmação foi constatada nos EUA em 2001 e 2005 e, como solução, os gestores de emergência adotaram o Sistema de Coordenação e Comando (SCC).
O SCC tem garantido sucesso nas respostas desde o início do século 21.
GESTÃO E PLANO ESTRATÉGICO
A gestão que emprega o SSO, em associação ao SCC, alcança eficácia para além do planejamento tradicional ao integrar as ações gerenciais às operacionais e as análises sistemáticas de resultados orientadas pelos objetivos, com a estratégia piramidal para ativação e desativação dos recursos.
O SCC equilibra os recursos aos níveis dos impactos. VER: princípio para denominações
Culturalmente os planos tradicionais para lidar com ameaças têm sido para “cumprir-tabela”, pois seguem normas mal redigidas para satisfazer exigências legais, sem que os gestores que as redigem, e os que as seguem, tenham competências consolidadas para garantir resultados.
O diagrama a seguir ilustra a estratégia piramidal da Gestão de Emergências, em relação a fatores culturais e a denominação dos impactos dentro de uma escala de magnitudes.

SOBRE O PEGE
Consiste em uma abordagem para tomar medidas e tornar os impactos menos prováveis de evoluir para categoria de desastre, e para que eventuais danos sejam menos prejudiciais. Planejar estrategicamente contribui para tornar as organizações e as comunidades mais fortes, menos vulneráveis, mas resistentes e resiliente ao lidar com ameaças tanto antropogênicas como naturais ou a combinação de ambas, a exemplo do que ocorreu durante os rescaldos do Katrina (2005) EUA.

As tecnologias precisam superar os desafios presentes nas pesquisas de campo e no trabalho solitário, onde a SSO não prevalece, por sua origem e tradição industrial.
Os gestores precisam dedicar atenção e propor soluções para prevenir perdas patrimoniais, o sofrimento e evitar frustrações institucionais, reduzindo os efeitos incidentais (em cascata).

O exemplo emblemático de pisar na casca de banana pode ajudar a ilustrar o que ocorre quando pesquisadores vão a campo sem enxergar os perigos que se apresentam em formas que variam desde ciúmes por parte dos habitantes de vilas, a inveja por parte de concorrentes e as trampas por parte dos prestadores de serviços, que podem não perceber a importância de pequenos atos.
EXPERIÊNCIA DE UM PESQUISADOR
Ao desenvolver sua tese de doutoramento em Arqueologia Subaquática, o pesquisador experimentou em campo dissabores que poderiam ter sido evitados com o SCC.
Por razões culturais os programas universitários não preparam o pesquisador para lidar com os desafios de toda ordem que se apresentam em campo.
Enquanto elementos acadêmicos obrigatórios incluem a originalidade do estudo; a metodologia adotada; a literatura; clareza e formatação do texto, paginação, citações bibliográficas, abreviações, siglas e metodologia alinhada a uma estrutura lógica, nada é ensinado para lidar com os potenciais percalços de trabalhar em contato direto com a natureza e, em exposição aos temperamentos instáveis de pessoas que discordem da presença dos pesquisadores na comunidade, por exemplo.

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