RECONHECIMENTO RECÍPROCO
- Randal Fonseca
- 20 de out. de 2024
- 9 min de leitura
As três esferas do reconhecimento incluem o amor, o direito e a solidariedade.
O incentivo promovido pelo reconhecimento e o estímulo continuado, desatam as amarras impostas pelo sentido do narcisismo. A formação corporativa JGE promove a inspiração e afasta dos modelos jesuíticos, incentivando a busca por outras possibilidades e caminhos que conduzem à vida social em que prevalece o apreço pelo reconhecimento recíproco.
O conhecimento do outro está afeto ao conceito de reconhecimento recíproco, que se manifesta em três esferas sociais: nas relações afetivas ou no amor (família), nas relações jurídicas ou de direito (estado) e na estima social ou na solidariedade (sociedade).
AS TRÊS DIMENSÕES DO RECONHECIMENTO RECÍPROCO
A primeira dimensão consiste nas relações primárias baseadas no “amor” e na “amizade”, e diz respeito à esfera emotiva, em que é permitido ao indivíduo desenvolver uma confiança em si, indispensável para seus projetos de autorrealização pessoal.
A segunda dimensão consiste em relações jurídicas baseadas em “direitos”. Trata-se da esfera jurídico-moral, em que a pessoa é reconhecida como autônoma e moralmente imputável e desenvolve sentimentos de autorrespeito.
A terceira dimensão é aquela baseada na “solidariedade social”. Neste caso a referência está voltada à esfera da estima social, onde os projetos de autorrealização podem ser objeto de respeito solidário em uma comunidade de valores.” (WERLE e MELO, 2007, p.15).
REVENDO AS DIMENSÕES DAS ESFERAS
Na primeira esfera (do reconhecimento recíproco), ocorre entre pais e filhos e está intimamente ligado às etapas de dependência absoluta e relativa, o que possibilita o desenvolvimento da autoconfiança.
Na segunda esfera (do direito), o reconhecimento ocorre quando o sujeito sai de seu contexto e ingressa em um contexto universal, mediado por relações contratuais, ou seja, as pessoas se reconhecem como proprietários e, principalmente, possuindo direitos iguais na sociedade.
Na terceira esfera (da estima social), as relações ocorrem mediadas pela solidariedade que, além do respeito universal, possibilitam alcançar a autopercepção de suas particularidades a serem socializadas com os demais membros de determinada comunidade.
O reconhecimento recíproco é constituído a partir da dialética, como o senhor e o escravo.
Para chegar à autoestima no reconhecimento social, as pessoas precisam antes passar pela experiência afetiva e jurídica que permita referir a capacidades concretas (HONNETH, 2003).
O RECONHECIMENTO AFETIVO
Para exemplificar a primeira esfera, a do amor, colocamos em perspectiva a relação entre mãe e filho, como vivessem apenas um para o outro. Quando a mãe retoma sua rotina diária, ambos percebem que conseguem viver um sem o outro. Ou seja, resultará em autoconfiança que possibilitará a autonomia.
A forma mais elementar do reconhecimento se dá tanto no amor como no direito.
O RECONHECIMENTO JURÍDICO
Para exemplificar a segunda esfera, podemos reconhecer o direito do outro percebendo os nossos direitos. Há uma tradição jurídica em que o reconhecimento se dá pela estima social, pois depende de o indivíduo ter uma boa posição na sociedade.
Atualmente o reconhecimento jurídico valoriza algo mais geral, considerando os interesses da sociedade como um todo e, com isso, o conceito parte do princípio da igualdade universal, ou seja, o indivíduo deve possuir valor igual aos demais membros da coletividade.
No aspecto jurídico, há a questão moral de viver de forma digna, considerando o outro.
O RECONHECIMENTO SOCIAL
Para exemplificar a terceira esfera, podemos colocar em foco a solidariedade, ou seja, a aceitação recíproca das individualidades, julgadas segundo os valores da comunidade.
É nesse âmbito que ocorre a autoestima, o sentimento em que a pessoa acredita nas próprias qualidades, que são iguais aos outros, e com isso é reconhecida pela comunidade.
A ESTIMA SOCIAL PRODUZ DISPUTAS INDIVIDUAIS
No meio social, o indivíduo demonstra suas singularidades de forma intersubjetiva e universal, (SAAVEDRA e SOBOTTKA, 2008). Se as mudanças deixam marcas, a valoração social abre espaço para manifestações individuais, entrando em atrito com a valor coletivo.
Portanto, há que considerar a estrutura responsável por desencadear uma tensão, quando todos estão em busca da autorrealização, e se encontram num processo competitivo.
Esses três padrões (esferas) de reconhecimento intersubjetivo correspondem respectivamente a três tipos de desrespeitos: a violação, a privação de direitos e a degradação. Em resistência ao reconhecimento recíproco é que ocorrem os conflitos sociais e as buscas pelas superações que geram os conflitos sociais.
CONFLITO SOCIAL
O conflito social é descrito como “processo prático”, no qual os desrespeitos são interpretados como experiências típicas de um grupo inteiro, de forma a influir como motivos da ação na exigência coletiva por relações ampliadas de reconhecimento.
Quando o desrespeito ocorre na esfera do amor, há ameaça à integridade física e psíquica, pois se manifesta por meio de maus-tratos e violação.
Quando o desrespeito ocorre na esfera do direito, atinge a integridade social da pessoa, privando-a de seus direitos e excluindo do convívio social.
Quando o desrespeito é na esfera da solidariedade, são as ofensas e infâmias que afetam a dignidade da pessoa inserida em uma comunidade de valores.
A partir dos valores éticos e morais, é possível perceber se há liberdade para incluir o outro.
O OUTRO NA EDUCAÇÃO
A possibilidade de abertura ao outro, ao diferente e ao estranho proporciona que a formação vá além dos limites técnicos, rigorosos e, talvez, até ortodoxos do pensamento transcendental que ainda perdura na educação, controlando e homogeneizando as ações pedagógicas.
A partir das reflexões propostas por Hermann, em seu texto Breve Investigação Genealógica Sobre o Outro (2011), foram apresentados alguns passos, para que a questão do outro se tornasse objeto de estudos na modernidade, bem como para compreender o outro de forma a nos completar. Ou seja, na contemporaneidade, tomamos consciência da necessidade do outro reconhecer a nós, para que possamos nos autorreconhecer.
O pensamento metafísico de Platão explica que, com a dualidade estabelecida entre corpo e alma, luzes e trevas etc., o outro é o estranho e, portanto, rechaçado.
Hermann (2011, p. 139), afirma que “na concepção de natureza humana, o corpo é o outro da alma e que tende a se tornar estranho à própria identidade de si”. No Idade Média a separação entre corpo e alma tinha a ver com os dogmas religiosos.
O que era considerado bom, se relacionava à alma, já o que se considerava ruim, ou perverso, pertencia ao corpo, pois esse, por possuir sensibilidade, era o estranho.
No século XIX, o outro passa a ter uma existência, pois o Eu, se torna outra identidade e abre ao múltiplo e ao diferente. Surgiu então uma certeza igual à sua verdade, e a consciência é para si o verdadeiro. Sem dúvida, a consciência é um outro, isto é: a consciência distingue algo que é ao mesmo tempo um não diferente. (HEGEL, 2008, p.135).
Portanto, essa consciência ainda não está totalmente aberta ao diferente, mas embora já perceba o outro, ainda não o reconhece. As reflexões do idealismo nos prepararam para ver o outro, nos planos culturais, políticos e éticos. Os profissionais da educação formal ainda apresentam muitos déficits em consequência da submissão categórica a um modelo de racionalidade fechado e excludente, que não considera a prática no ambiente laboral.
A COLONIZAÇÃO IGNOROU A CULTURA ORIGINAL LOCAL
A imposição da cultura dos colonizadores é um exemplo da desvalorização da diferença.
"As relações afetivas devem então incluir todas as relações primárias de ligações emotivas entre poucas pessoas [...] como as de pais/filhos” (HONNETH, 2003, p. 159).
A reflexão a respeito da relação estabelecida entre teoria e prática, bem como entre educador e educando, se torna promissora quando pensada por esse viés compreensivo.
Logo, “em sua efetivação os sujeitos confirmam mutuamente na natureza concreta de suas carências, reconhecendo-as assim como seres carentes” (HONNETH, 2003, p. 160).
É a partir do reconhecimento da independência do outro que o conflito é gerado e daí é que se desencadeia a luta pelo reconhecimento, em que teoria e prática seguem por um caminho de forma independente, desenvolvendo à sua maneira o processo educativo.
Ao trazer esta situação para o cotidiano de uma instituição escolar, ou então, para dentro do contexto acadêmico, há possibilidades de relacionar tais ideias com a situação em que estão envolvidos igualmente professor e aluno. Para que teoria e prática aconteçam de forma simétrica e recíproca, é preciso haver a construção de uma relação que envolva o desenvolvimento da afetividade e do amor.
Sendo assim, na relação existente entre professor e aluno há a implicação do afeto e da confiança, que envolvem a valorização do conhecimento, da compreensão por parte do professor e do aluno, dos interesses e das intenções a serem construídos ao longo do processo educacional, pois tal construção também diz respeito à esfera amorosa.
O trabalho do professor inclui o cuidado com o aluno, para estimular a busca pelo conhecimento e ampliar seu pensamento ou sua cognição, para o que está realizando.
O conhecimento não é inato, resulta de um processo que envolve dedicação, paciência, reflexão, curiosidade, descoberta e, principalmente, desejo de aprender e de pesquisar.
No entanto, do mesmo modo que a mãe constrói com a criança, aos poucos, um processo de afastamento ou de dependência relativa, o professor precisa construir esse distanciamento com seu aluno, considerando que compete ao aprendiz ser independente do professor na busca por novos conhecimentos.
É perceptível a semelhança que existe com a teoria do reconhecimento e, nesse caso, com a primeira esfera, a do amor, quando ocorre a agressão do filho com sua mãe, ou o professor com o aluno. O filho e o aluno compreendem o sentido da independência iniciando um processo de conflito, ou seja, uma luta por reconhecimento.
O senhor, ao exercer o poder sobre o escravo, busca o reconhecimento de sua dominação.
O senhor assegura a subordinação, pois não alcança sua autossuficiência sem o outro.
O senhor só se reconhece como senhor por existir o escravo, que o reconhece como senhor, e permite a dominação que se perpetua porque há uma relação de dependência.
Tanto nas relações de força ou de dominação, quanto nas relações amorosas, o processo de libertação fica consignado à compreensão do ponto de submissão que passa a constituir a própria identidade e autonomia, mas também do ponto em que se torna um empecilho.
No contexto da educação há a necessidade de afastamento entre professor e aluno, constituindo a terceira esfera do reconhecimento: a solidariedade, ou estima social, não restrita ao âmbito familiar e jurídico, pois alcança a esfera da convivência em sociedade.
ACEDER AOS UNIVERSOS DO RECONHECIMENTO
Para ampliar horizontes é preciso passar a entender a amplitude da sociedade.
Grupos motociclistas alcançam diferentes formas de conquistar a liberdade.
Assim a teoria do reconhecimento do outro pode possibilitar uma compreensão mais ampla da sociedade e a importância dos espaços não formais de ver e sentir daquele outro motociclista, como os motoboys. Esses movimentos trazem a experiência “do outro” permitindo entender a realidade, fora de esquemas conceituais e operacionais de trabalho.
A partir de como entendemos as coisas na vida, o reconhecimento do outro se dá na esfera social e, daí podemos compreender como novos grupos sociais constroem a sua identidade.
A FUNCIONALIDADE DA FORMAÇÃO
A educação corporativa (dos agentes) auxilia entender e superar grande parte dos problemas enfrentados pelas organizações que oferecem serviços de segurança privada.
Há uma integração entre as peculiaridades dos clientes atendidos e os agentes.
Nesse sentido, ocorre a integração qualificada do profissional no mercado de trabalho, pois ele se apropria não apenas das matérias voltadas às suas atribuições funcionais específicas, uma vez que recebe, antes de mais, o reconhecimento como membro da sua comunidade.
OS INCENTIVOS COM A GAMIFICAÇÃO
O reconhecimento além de valorizar o agente expõe o “outro” pela falta de qualificação.
Os profissionais que buscarem alcançar um bom nível de proficiência precisarão concentrar esforços no aperfeiçoamento de suas atribuições para atender exigências do mercado.
A formação para se posicionar com reconhecimento está associada às bases curriculares nacionais que falham nos aperfeiçoamentos, evidenciando a importância da educação corporativa específica que legitima os interesses – tanto dos que contratam serviços, como dos que oferecem a mão de obra especializada com alto nível de qualificação.
Assim, são as necessidades econômicas que ditam as formas de entrada na sociedade, pois a busca pela qualificação é guiada por tais prerrogativas, ou seja, a formação corporativa adquire como ideal os ditames da sociedade competitiva na qual está inserida.
Do mesmo modo, a educação corporativa nos seus ideais de formação dos agentes da segurança privada, objetiva resultados imediatos, considerando os meios e processos da construção de conhecimento com vista ao sucesso dos empreendedores.
O processo de gamificação incluído na formação com o APP JGE é guiado pelas diretrizes da racionalidade econômica e servem como critério para a avaliação dos resultados.
Nesse aspecto, o programa de reconhecimento e premiação por meio dos games interativos JGE cumprem com a sua parte ao incentivar os participantes a estudarem.
Há que se considerar que a formação corporativa influencia os líderes, os liderados e as famílias na íntegra social, e não somente como elemento funcional no âmbito da empresa.
O reconhecimento é mais do que apenas um incentivo à educação para o trabalho, pois alcança os familiares, tanto no sentido prático, ao serem eles a selecionar o tipo de premiação que o agente deverá buscar, como nos valores morais, estéticos e éticos.
É assim que a formação corporativa, com base nas três esferas do reconhecimento, revela a forma de transcender os muros das organizações e permitir o contato amplo com o outro.
O RISCO DO DESRESPEITO
No sentido inverso do reconhecimento do outro por meio da educação corporativa reside o risco de falhar na formação complementar dos colaboradores. Diante desse risco iminente as organizações ficam expostas a experiências individuais de desrespeito com os clientes.
As atitudes espontâneas têm potencial de atingir de forma crucial um grupo inteiro, colocando os diretores e lideranças como o motivo da ação, repercutindo no coletivo.
A teoria do reconhecimento permite perceber o ideal de formação que envolve os processos laborais. É neste sentido que o ensino corporativo do APP JGE oferece uma infinidade de nuances para a organização funcional e para o planejamento da formação.
O reconhecimento, no âmbito educacional, implica ampliar a discussão para além dos conteúdos técnicos, considerando o aprendizado como um fenômeno social, em que participam a família, o estado e a sociedade como um todo: como um livro aberto.
CONCLUSÃO
Afinal, essas instâncias estão envolvidas na gênese da constituição educacional e nas possibilidades que surgem para pensar e refletir sobre os métodos andrológicos – que é a abordagem de ensino centrada nas necessidades e características dos adultos, e que utiliza métodos específicos para o ensino nesta faixa etária.
O reconhecimento recíproco é um redimensionamento que contribui com as três esferas: da família, com o amor; do direito com o respeito; e da sociedade, pela solidariedade.
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