O QUE É UM DESASTRE?
- Randal Fonseca
- 27 de jul.
- 6 min de leitura
Atualizado: 28 de jul.

Para responder temos que recorrer a uma investigação eclética com foco abrangente que, em primeiro lugar, busque definir a natureza dos eventos socialmente perturbadores e, a seguir, empregar corretamente a terminologia incorporada à Ciência das Emergências, e então aderir aos postulados epistemológicos da disciplina Gestão de Emergências.
A partir daí, os gestores de emergência podem contribuir com os princípios fundamentais que orientam a produção e validação do conhecimento científico, abrangendo questões como a natureza da realidade, a relação entre sujeito e objeto e os métodos adequados para as comunidades reduzirem vulnerabilidades aos riscos, preparando recursos para responder a ameaças, minimizando com isso os esforços para recuperar de desastres.
Para saber mais sobre a hierarquia dos eventos, dos termos e seus significados é essencial ler: CIÊNCIA DAS EMERGÊNCIAS PARTE #02 - PRINCÍPIOS PARA AS DENOMINAÇÕES
O CONSENSO
Uma vez de posse do conceito subjacente às terminologias, o próximo passo será chegar a um consenso sobre o que é um desastre, mas para isso é preciso esclarecer quais níveis de impactos e quais tipos de danos. Então, surge a questão se é possível incluir sob um mesmo amparo conceitual os conflitos sociais, as explosões, vazamento nuclear, colapsos de estruturas e movimentos tectônicos, por exemplo.
O que se tem em perspectiva para uma designação semântica apropriada é a diferença da teoria com a prática, pois a mesma nomeação “desastre” tem sido atribuída para situações díspares. Isso pode ser comprovado ao se entrevistar jornalistas e especialistas de diferentes áreas sociais e, no âmbito, solicitar que definam o que é um desastre.

Essa pergunta já foi feita em diferentes oportunidades e os entrevistados apresentaram diferentes pontos de vista. Então, há que se abordar os interlocutores especificamente a partir de cada tipo de impacto, pois a generalização suscitará argumentações conflituosas.
UM MARCO TEÓRICO
Em um fórum de sociologia a questão sobre o que efetivamente pode ser definido como desastre trouxe como resposta uma miríade de pontos de vista. As discussões foram encerradas deixando um desafio para que fosse definido o significado de desastre no tocante a hierarquia dos eventos e impactos, mas apenas circunscritos ao século 21.

Desde os ataques às Torres Gêmeas, os Estados Unidos implementaram pesquisas sobre a natureza dos desastres. Com isso, assumiram a liderança na formação não-genérica de gestores de emergências. Os cursos foram desenhados para atender diferentes responsabilidades categorizadas de acordo com as atribuições assumidas pelos gestores.
A CORRELAÇÃO
Esse processo de formação correlacionado às atribuições específicas evidencia a maturidade da gestão de emergências que, em vários países, ficou estacionada no cerne dos estudos sobre os efeitos socioeconômicos do que se nomeia como desastres.

Como consequência, as autoridades políticas se dedicaram a implantar Centros de Controle de Desastre e a buscar por gestores de emergências com formação abrangente.
SOBRE A GESTÃO DE EMERGÊNCIAS
Originalmente a formação genérica de gestores de emergências focou de forma ampla as atividades nacionais, universalizando a discussão das políticas de governo consignadas a efeitos socioeconômicos dos desastres, nomeadamente voltados a apropriação de verbas para recuperação dos impactos, sem investigar as causas específicas e os efeitos.

Todas as medidas tomadas para gerir eventos extremos trazem benefício para a sociedade.
A visão popular se dá sob o prisma conceitual de uma gestão de riscos do século 20, que trazia apenas os custos-benefícios. Assim, a função social da gestão de emergências está desacoplando do paradigma dominante e ampliando o espectro daquela tradicional gestão que colocava a perda de vida e danos materiais na mesma equação, indo agora em direção à maximização de ganhos, com decisões e investimentos para bem-estar das comunidades.
CATEGORIAS DA GESTÃO DE EMERGÊNCIAS
A gestão de emergências deixa de ser uma atividade de suporte político-administrativo para se tornar uma atividade eclética e diversificada que inclui o planejamento estratégico e a preparação para as respostas táticas categorizadas por cada tipo de evento, com recursos especializados. Isso dá a disciplina uma função social sob a qual são examinados todos os episódios socialmente perturbadores sob uma perspectiva holística, dirigindo a atenção para a integração coordenada de ações cooperadas, como um conceito central.

Sistemas de administrações comunitárias que adotem a gestão de emergências devem refletir as estruturas socioeconômicas que operam dentro da comunidade – neste aspecto há que saber o significado semântico de “comunidade” e “sociedade” (Bauman, 2003).
É inimaginável que um sistema único possa atender e ser igualmente benéfico a todos.
A formação especializada dos gestores de emergências reflete, portanto, os requisitos nacionais. As variações entre os sistemas devem ser esperadas e mesmo incentivadas.
DESAFIOS PUGENTES
Há muito a ser adquirido e desenvolvido para se chegar a tal entrelaçamento, particularmente se ao fazê-lo se pretende alcançar um maior entendimento sobre compartilhar contextos e perigos socioculturais, buscando saídas semelhantes, mesmo que os requisitos de resultados sejam diferentes, por exemplo, alguns sistemas ainda definem gestão de emergências como ter ambulâncias e carros de bombeiros, enquanto outros são policiamento e proteção civil.
Esse raciocínio também vale para localidades com muitos ambientes sociais, políticos e culturais, ou cujos riscos esperados possam ser fundamentalmente diferentes.

Compreender outros arranjos é uma maneira de perceber os próprios, e estes podem levar a melhorias estruturantes, tanto dentro como entre os sistemas sociais. Esse aspecto foi destacado quando gestores de emergências e outros altos funcionários da Austrália, Nova Zelândia e dos EUA se reuniram em Christchurch, Nova Zelândia, para desenvolver uma plataforma integrada de cooperação multiagência e explorar temas de importância mútua.
OS DEBATES PUGENTES
As controvérsias que surgiram focaram, em especial, as iniciativas recomendadas para compor as ementas da disciplina Gestão de Emergências, que deveriam contemplar os respectivos objetivos de cada agência, indicando que uma nova era estava prestes a começar e a demandar elementos para uma gestão de emergências aperfeiçoada, com as ferramentas para as necessidades identificadas, além de oportunidades para profissionais.

OS RESULTADOS 1
No entanto, como em tudo, o tempo foi elemento crítico e não demorou muito após a primeira reunião de trabalho em San Francisco, para que uma mudança ocorresse nos EUA, impulsionado pelas expectativas promissoras desta disciplina. E então aconteceu o 11 de setembro de 2001, reforçando as necessidades de contar com esses profissionais nos EUA.

BEM-VINDO AO SÉCULO 21
No início deste século os EUA foram sacudidos por eventos sem precedentes no coração econômico de Nova Iorque. Os impactos dos ataques terroristas incentivaram a Nova Zelândia a refinar o seu sistema de gestão de emergências à guisa de novas legislações, que refletiam um conjunto diferente de necessidades da sociedade, o que ficou voltado a criar uma mais bem desenvolvida organização integrada com a população.
A atenção dada às atividades antiterroristas pelos EUA realmente incentivaram uma abordagem mais aprofundada de processos de gestão de emergências em outros países.
Um exemplo foi colocar o setor privado no centro da gestão estratégica de emergências para as tomadas de decisão no contexto operacional, e estendido até o plano doméstico.
OS RESULTADOS 2

O ponto central é que a mudança foi boa, a diferenciação confirmou ser importante e foi implementada, sendo criteriosamente adaptada a cada desafio e aos diferentes contextos.
Essa diretriz nada tem a ver com "manter as aparências", criando diferenças nas diferenças, ou rejeitando uma abordagem única que atenda a tudo, apenas porque em outro lugar pode haver situações similares. Pelo contrário, é necessário ter certeza de que todas as abordagens estão sendo consideradas e adequadas aos contextos em que irão operar.

A formação profissional e desenvolvimento dos gestores precisam estar de acordo, para reconhecer padrões e qualificações alinhados aos currículos e a um código de conduta.
MAS AFINAL, O QUE É UM DESASTRE?
A resposta para definir este termo pode ser o incentivo de se ampliar a percepção para antecipar ao fenômeno implícito ao termo “EMERGÊNCIA”, que descreve uma das propriedades mais fascinantes e misteriosas, em que coisas pequenas se reúnem formando coisas maiores que precisam ser observadas para serem interpretadas quanto a forma, e daí ser possível obter uma informação. Sem a informação do que está implícito ao fenômeno que emergiu, que se mostrou à luz, o desastre estará lá, com todo o potencial de impactar.
Desastre pode ser descrito como algo que se tornou presente e observável, mas que por falha da gestão de emergências o potencial de impactar não foi controlado. E, uma vez que o impacto ocorra com toda a sua disposição, as ações não serão direcionadas ao controle, mas voltadas às operações de recuperação dos danos, com investimentos.
A gestão de emergências é a mudança conceitual dos parâmetros tradicionais.
A resposta a impactos como objeto de formação está a transformar profissões, exterminar mercados oportunistas, mudar comportamentos das famílias, solucionar problemas locais e dar origem a cenários que nunca existiriam.
A gestão de emergências é a resposta para que o impacto do 9-11 não volte a se repetir.

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