O ENLACE SOCIAL DAS QUESTÕES AMBIENTAIS COM OS DESASTRES
- Randal Fonseca
- 19 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 31 de ago. de 2023

A origem do estudo mais aprofundado da questão ambiental pela teoria social se deu nos anos 1960, quando se evidenciou globalmente uma prática de contestação social. Tal processo pegou de surpresa os sociólogos da época, da mesma forma como agora está o processo de estudos sobre os desastres. Nestas duas décadas iniciais do século 21 os cientistas sociais demonstram estarem sendo pegos de surpresa, pois, a teoria social para os desastres continua a mostrar suas limitações, tanto no âmbito do estudo das relações entre a cultura e seus ambientes, como no âmbito da investigação das origens dos eventos socialmente perturbadores trazidos com os desastres naturais e antropogênicos, uma vez que ambos dilemas estão na raiz das interpretações políticas, que passaram a ocupar uma agenda de órgãos internacionais e setores empresariais.
Cada vez mais fica evidente que a questão ambiental e a atenção voltada aos impactos de desastres não são esquisitices passageiras, mas um processo perene e significativo que exige ser estudado e enfrentado para dirimir divergências e conflitos sobre os diferentes usos da natureza e as diferentes formas de preparar as populações, devido a extensão dos problemas que envolvem indivíduos, famílias, comunidades, governos e todos os setores produtivos.
RELEVÂNCIAS SOBRE A SOCIOLOGIA DOS DESASTRES
Questões relativas ao meio ambiente e sua íntima relação com eventos não-planejados, como os desastres, têm tido destaque e refletido diretamente nos meios econômicos e sociais. Logo à partida é necessário se obter um referencial sociológico para responder a complexidade de perguntas que envolvem a interação entre o homem, a natureza e seus meios de sobrevivência.

Os desastres são examinados no meio científico sob prismas que incluem com primazia os custos sociais, seguido pelos agravos de saúde, perdas de propriedade e interrupções dos meios de produção.
Um dos entraves iniciais do desenvolvimento científico de uma Sociologia dos Desastres foi ter passado das questões relativas ao meio ambiente, que antes eram relegadas às Ciências Naturais (física, química e biologia), como também das ciências Segurança e Saúde que ofuscam a visão dos sociólogos pois eles mantêm o foco no que foi definido como áreas frágeis. Neste aspecto, é lícito reiterar que a designação Áreas Frágeis vem do conceito da OCDE e FFP que descrevem a fragilidade dos contextos sob a ótica de “educação e recursos”.
MUDANÇAS DE PARADIGMAS
A reorientação paradigmática da sociologia clássica teve origem nos Estados Unidos, na Escola de Chicago, onde desde a década de 1920 o pensamento ecológico já tinha sido incorporado aos estudos societários. Contudo, nesta época, o estudo da “Ecologia Humana” adotado pela Escola de Chicago tratava a questão ambiental pelo aspecto espacial, se limitando apenas a complexidade do ambiente físico pela sociologia ambiental. Foi somente nos anos 1970 que surgiu o estudo da sociologia ambiental de uma forma próxima a compreendida atualmente. Nos primórdios, estudo das interações entre sociedade e meio ambiente constituía o núcleo central da sociologia ambiental, baseado no conceito de “complexo ecológico”. A partir daí a Sociologia passou a ter um campo científico próprio com várias particularidades. Nesta esteira, entra em campo as preocupações sociológicas dos desastres de causa natural, com magnitudes para comprometer gravemente a produção e a sobrevivência de comunidades.

A temática dos desastres consignados a causas naturais se somou às questões ambientais para serem discutidas pelos mais diversos setores da sociedade em âmbito global, demandando novos padrões cognitivos e comportamentais, como também os desastres provocados pelas ações humanas.
A ênfase em relação aos desastres representa atualmente uma verdadeira revolução nos hábitos, valores e percepção das pessoas, e as transformações não se restringem ao nível do indivíduo, pois elas envolvem a necessidade de modificações econômico-produtivas e socioculturais, principalmente por ser um problema universal nas agendas da governança.
O CAMINHO DA SOCIOLOGIA DOS DESASTRES
Como produção científica e acadêmica, a sociologia dos desastres surgiu da constatação da situação emergencial do uso não precaucionário dos recursos naturais e do forte desenvolvimento da industrialização, com demandas de insumos que modificam o equilíbrio de regiões naturais sensíveis, como os mananciais, as praias e ceanos, também das cidades e vilas despreparadas para resistir e resilir a impactos de diferentes tipos e magnitudes.

PRODUÇÃO SOCIOLÓGICA
Conforme exposto, desde a década de 1970 até os tempos atuais a Sociologia vem discorrendo sobre a temática ambiental e dos desastres de causas “naturais”, com a consequente ampliação da produção teórica para dois novos campos da sociologia: Sociologia Ambiental e Sociologia dos Desastres, que se unem a fim de levantar questionamentos e encaminhamentos sobre interrelação do ser humano com o meio em que vive, pois as causas naturais dos desastres estão sendo agravadas pelo uso irresponsável dos recursos naturais.
É importante entender que o processo que trata da problemática ambiental, bem como a sua complexidade está demonstrando que os desastres trazem ainda mais multiplicidade de fatores, evidenciando que a Sociologia Ambiental não cuida apenas das dimensões sociais no meio ambiente, pois está a incorporar os desastres na discussão sociológica e isto pode ser afirmado sem contradição com a pluralidade das correntes sociológicas existentes.

Nas últimas duas décadas, pudemos testemunhar com especial atenção a institucionalização das emergências e desastres na Teoria Social, dando ênfase a disciplina Gestão de Emergências.
EVOLUÇÃO ACADÊMICA
As atenções sociológicas voltadas aos desastres deram origem ao que se denomina atualmente Ciência das Emergências. Essa súbita evolução das precauções e prevenções abriu um caminho teórico próprio para investigar fatores inerentes aos desastres com implicações culturais, socioeconômicas e ambientais, resultando na reformulação de questões mais complexas.
Para auxiliar a solucionar entraves técnicos no âmbito da sociologia dos desastres, foi desenvolvida a disciplina Gestão de Emergências, com uma estrutura técnica para formar profissionais com atribuições específicas dentro de cada conjunto social subjugado à cultura.
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