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NUANCES DA INTENCIONALIDADE

  • Foto do escritor: Randal Fonseca
    Randal Fonseca
  • 12 de abr. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 13 de abr. de 2024

A intencionalidade é um ato de consciência separada dos fenômenos físicos.

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A intenção é direcionada a algo que conscientemente se quer.

Os pensamentos, anseios e desejos são sempre acerca de alguma coisa ou ação. As palavras para exprimir crenças e outros estados mentais são relacionadas a coisas ou ações.


Objetos e intempéries são coisas e como tal não têm consciência ou intenção em si.

A existência do inexistente é uma exclusividade dos fenômenos mentais. A intenção de empreender sem produzir incidentes é saudável e, é de se crer ser neste sentido que reside a iniciativa das empresas, ONGs e governos. No entanto, em qualquer destes setores se houver um descontrole operacional não-intencional haverá o potencial de perdas, tanto econômicas como socioambientais.


Nestes casos, a responsabilidade pelos danos é compartilhada pelo empreendedor, pelos órgãos governamentais anuentes e pelas agências de resposta. Sabe-se que a maioria dos eventos desastrosos têm origem nas “boas velhas intenções” e nos erros das interpretações de informações não verbais – aquelas percepções sutis que sem intencionalidade, mas por falha na interpretação produzem danos.


Um exemplo de informações não-verbais pode ser tomado de um bebê que chega ao mundo sem linguagem, mas ainda assim os pais interpretam suas necessidades e aos poucos vão repassando informações que o recém-nascido começará a interpretar na medida em que cresce. Investigadores da Universidade de Princeton, EUA, constataram que o tom de voz adotado pelas mães ao se relacionar com seus bebês é uma linguagem universal. Esses arranjos dialéticos não-verbais contribuem para explicar o que é “postura intencional”.


Um exemplo de postura intencional pode ser percebido ao se jogar xadrez com um computador. O humano assume que existe na máquina a intenção de vencer a partida. Mas na realidade o computador não possui intenção alguma, pois é uma “coisa” e, como tal, não tem nenhum tipo de consciência, mas o “interpretador” poderá entender que aquele aparelho está com alguma “intenção” no jogo, devido a postura intencional do próprio jogador humano. O jogador humano projeta no computador a sua postura intencional.


APROFUNDANDO A ANÁLISE

No tocante a análise dos níveis da intencionalidade, em primeiro lugar, é preciso examinar o objetivo racional; depois é necessário investigar os elementos subjetivos da cultura administrativa que busca “simplificar” o controle da segurança e reduzir gastos com a preparação para responder aos descontroles e recuperar das perdas.


Sabe-se que ao pragmatizar o empreendedor tem em mente um objetivo. Diante do propósito ele se torna responsável por assumir qualquer nível de risco se não desenvolver um plano de preparação e resposta consistente com os inerentes desafios.


Sabe-se ainda que no mercado de trabalho os gestores pragmáticos são muito bem-conceituados por terem a habilidade de selecionar aquilo que é útil. A cartilha do pragmatismo ensina o gestor a remover tudo que não esteja exclusivamente relacionado ao resultado almejado, liberando com isso “espaço” no hipotético corpo-físico do tempo, pois tempo é dinheiro.


O desejo da gestão pragmática, em síntese, é “livrar a organização dos teóricos e das teorias”; das baboseiras, dos conceitos constitutivos, se esses não atenderem diretamente ao objetivo.

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Com um pouco de raciocínio prático podemos entender que as decisões pragmáticas são tomadas como desejos de acertar, tanto no âmbito da iniciativa privada como das anuências públicas despreparadas para fazer análises aprofundadas e prevenir calamidades, como deveriam. Então, ao assumirmos que a intencionalidade resulta da consciência e, sendo a consciência um fenômeno relacionado a razão, é possível perceber onde está estruturada a compreensão do sistema intencional, o qual, sem plano estratégico, proporciona as condições favoráveis para os danos e perdas.


No caso das rupturas das barragens de mineração, não se pode dizer ter existido intenção dos gestores da mineradora em produzir o mar de lama, muito menos das autoridades que anuíram os projetos. Ninguém tinha desejo que ocorresse a catástrofe, mas ocorreu e causou danos monumentais e mortes, por falta de executar o Plano que estava disponível para preparar as bases que, se não impedisse o evento, teria pelo menos mitigado o impacto sobre as pessoas, sob diferentes aspectos. Ou seja, o desejo sobrepujou o plano.


Então podemos constatar que os sistemas intencionais estão presentes em toda e qualquer estrutura, artefato, coisas ou organismo, cujo comportamento pode ser explicado e/ou predito a partir da interpretação da “postura intencional”, que aos olhos treinados e percepções aguçadas conseguem interpretar onde estão os riscos graves associados a vulnerabilidades, e prescreve onde impactará e como se preparar. Esses vaticínios de alto nível constituem o cerne da Gestão de Emergências.


Um empreendimento com ou sem alto nível de risco e sendo qual seja o perigo subjacente não pode prescindir de contar em sua administração com o setor de Gestão de Emergências, com vista a não cingir a anuência governamental.

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DOCENTES E LEGISLADORES  

É preciso investir atenção e rever a formação dos professores e orientadores dos programas de pós-graduação, pois são eles que certificam grande parte dos gestores de meio ambiente e futuros legisladores, pois em última instância são esses que anuem as licenças operacionais dos empreendimentos.


É necessário cruzar informações sobre as falhas produzidas pelas empresas que possuem  anuência dos governantes. Também é preciso reexaminar a formação dos malformados, deformados ou desinformados, pois isso está nas raízes das intenções mal-intencionadas ou apenas sem parâmetros a altura das eficácias, para que todos possam fazer o melhor.


MOTIVAÇÕES E RAZÕES

As normas, portarias e leis são concebidas e redigidas para equacionar os “vícios e virtudes das razões” ou seja, as motivações que levam a empreender algo. As permissões para operar sistemas produtivos são concedidas com vista a justiça entre quem empreende e quem pode ser prejudicado pelo empreendimento. E, é lícito reiterar que para garantir o equilíbrio dessas duas posições há o dever precaucionário dos representantes das comunidades tradicionais, sem excluir a sociedade civil organizada. Os cuidados incluem estabelecer o controle sobre o limite operacional.


Quando se examinam as reais competências do empreendedor, dos servidores e da população em risco é possível enxergar os hiatos que dão origem a fatos institucionais deônticos (a lógica para analisar as normas ou as proposições das próprias normas).


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Para aprofundar, leia: Emergências Complexas: gestão para resiliência (RTI Editora; 2017).


AS INTENÇÕES E AS ESTRATÉGIAS

As publicações JGE têm colocado em perspectiva elementos subjacentes aos desastres e seus custos socioambientais. O JGE coloca sob escrutínio se há ou não incompetência, distração ou desleixo, ou se há uma combinação desses três fatores por parte dos tradicionais gestores.


A conclusão tem apontado para a inadequação dos níveis educacionais para atender as exigências técnicas, tecnológicas e socioambientais. As posturas intencionais alinhadas às estratégias estão a apontar que há nuances de intenção em garantir que os despreparados possam manter suas funções, a despeito das consequências que possam causar.


O JGE enfatiza ser preponderante incluir nas ementas dos programas de pós-graduação e dos cursos de nível superior e técnico os elementos da Gestão de Emergências. Uma prioridade.


 

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