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SOBRE AS ESTRATÉGIAS E AS TÁTICAS

Quais são os limites que definem onde termina a estratégia e inicia uma tática?

Estratégia é uma palavra com origem no grego strategia, que na ampla acepção significa plano, método, manobra ou estratagema para alcançar um objetivo ou resultado específico. 


Sabemos que os conceitos de estratégia e tática na atualidade estão relacionados à cultura.


Parafraseando Michel de Certeau, a estratégia é o plano de ação para se alcançar um resultado, enquanto a tática consiste nas etapas e ações individuais que levarão até este resultado. Nas respostas a emergências, a tática refere às ações específicas que as equipes de resposta colocam em prática ao realizar os provisões e dispositivos do Plano de Ações.


Estes dois conceitos que se complementam vêm sendo objeto de estudo em diferentes setores da sociedade. Algumas discussões buscam distinguir com precisão as táticas de estratégias, da mesma forma como se busca delimitar os fortes de fracos, os dominantes de dominados, dentre outras conceituações, com miríades de tons cinzas.

O desenvolvimento de estratégias para propor táticas eficazes, economicamente orientadas, não é algo que as autoridades tenham interesse, pois enxergam nos desastres oportunidade de enfatizar a importância e de garantir a hegemonia do poder, colocando o cidadão em posição de dependente e subjugado às agências de resposta, pois a população não está preparada para cuidar de seus próprios desígnios.


A estratégia dos governantes fica evidente quando não fomentam programas de preparação doméstica para desastres. Com essa atitude (planejada) as autoridades, de forma imperativa, posicionam as agências de respostas como única solução e, promovem (estrategicamente) os integrantes dessas corporações como heróis que, com abnegação, estão dispostos a colocar suas vidas em risco, trocando pelos enaltecedores afagos e luzes da mídia domesticada.


Os holofotes midiáticos direcionados sobre as cenas de desastres são uma das formas de remunerar os altruístas servidores, na maioria despreparados e mal equipados. Esses audazes e destemidos personagens, muitas vezes são colocados esteticamente nas capas de revistas especializadas e entrevistados em programas de televisão que, sem escrúpulo, faturam numerários ao manter a coragem dos protetores sob um manto de incomparável valor social: algo como sendo a essência e vocação para suas próprias existências.


SOBRE A UTILIDADE DAS TÁTICAS

As táticas são interpretadas como “ações que geram efeitos” – em oposição às estratégias – que visam mapear desafios e planejar, impondo limites. As táticas possibilitam maneiras diferentes de fazer alguma coisa e, muitas vezes resultam do interesse de uma pessoa ou grupo, às vezes com vista a apropriação de algo ou de eventos, como se pode perceber pelas posturas das agências governamentais de resposta a emergências e desastres.


FORMAÇÃO E REMUNERAÇÃO

A população precisa estar informada da importância de (estrategicamente) os agentes de resposta serem muito bem remunerados em moeda corrente (dinheiro), e advogar para que eles sejam bem-formados, treinados, equipados e reconhecidos por suas competências e habilidades profissionais, em vez de ovacioná-los com adjetivações que incluem, mas não estão limitadas a “corajosos, bravos e valorosos heróis, adotadas para enaltecer os oficiais das agências exibidos nos reality-shows e aplaudidos pelos incautos telespectadores.


A GESTÃO DE EMERGÊNCIAS

O JGE enfatiza a importância do reconhecimento da formação, do treino e do desenvolvimento das habilidades desses profissionais que integram as equipes de resposta, que podem também pertencer a grupamentos da iniciativa privada e das ONGs que arregimentam voluntários, sem prejuízo de que todos sejam merecedores da boa e excelente remuneração por seus serviços. Ou seja, os honorários dos profissionais de resposta devem refletir o resultado de suas excelentes formações. Na medida em que exista a oferta de pessoal altamente qualificado, justificará investir nas carreiras e, com isso aumentará o interesse e busca pela formação de alta-qualidade, fomentando a criação de escolas técnicas e cursos superiores, em benefícios de todos.


Na contramão da boa e mesmo excelente remuneração, o que se vê é a oferta de profissionais que buscam a formação gratuita disponibilizada pelas corporações. Há inclusive empresas de iniciativa privada e governamental que buscam obter treino (gratuito) para seus socorristas e brigadistas junto as corporações e, com isso, trazer para a organização uma suposta áurea de eficiência. Essa estratégia de forma alguma eleva a qualificação profissional, mas perpetua a mesmice e, por conseguinte, justifica manter os salários, equipamentos e benefícios aquém do desejável. Por exemplo quando se compara a remuneração dos brasileiros com as dos norte-americanos, pelos mesmos serviços prestados pelas agências.


E, não é por outro motivo que muitos servidores das agências de resposta buscam migrar para atuar em outros países. Sob essa ótica podemos constatar o porquê de não se promover a preparação doméstica para desastres e de se insistir em depositar todo o ônus da resposta nas corporações. Esta é uma estratégia, e como resultado do “plano” ficamos exposto a táticas que atuam por tentativa e erro, com muitos erros por tentativa. Na avaliação de desempenho a culpa pelas falhas que sucedem a primeira falha é atribuída a “fatalidade”, cuja natureza imperiosa tem grande probabilidade de cobrar a vida dos heróis, mas... a salva de tiros e discursos nos enterros compensarão, como têm sido feito.

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