TURISMO (NÃO) SUSTENTÁVEL
- Randal Fonseca
- 10 de jul. de 2024
- 15 min de leitura
Minha casa virou isso ...! Mas eu já não faço parte disso.
O turismo ambiental e cultural, além da premissa de compatibilidade social, precisa prevenir os desastres crônicos que resultam das intenções unilaterais dos gestores.
As lideranças, ao conduzirem as medidas relacionadas ao princípio da sustentabilidade precisam ter como meta o conceito de desenvolvimento sustentável, no âmbito ESG.
Nos seus contumazes discursos, as lideranças ao fazerem referência ao ESG demonstram estarem aptos a implementarem aquelas ações que os distinguem dentre seus pares, e que, por conseguinte, seus liderados acreditam estarem bem-amparados e bem-direcionados.
No entanto, por mais consistente que possam ser as afirmações de segurança defendidas pelos gestores formados em programas do século 20, há no século 21 aqueles eventos indesejáveis que, sem aviso, corroem e provocam perdas patrimoniais, sofrimento e danos ambientais, muito rápidos, rápidos, lentos, ou muito lentos. Então, é lícito lembrar que independentemente da velocidade de impacto, se a causa não puder ser controlada por meios próprios, a condição, cada uma com a sua própria característica temporal, evoluirá para a categoria de desastre, e daí dependerá de ajuda adicional para recuperar.
Neste caso, é preciso responder a três perguntas:
1. Em que momento o impacto crônico teve início?
2. Qual será o tipo de ajuda para recuperar do desastre crônico?
3. É possível retornar taças de cristais quebradas à condição original?
A gestão de emergências inovou, colocando as atividades socioambientais sob a perspectiva do planejamento estratégico que permite enxergar muito além dos contumazes objetivos operacionais delegados a gestão de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade. Esses sistemas da administração trazidos do século 20, de acordo com o princípio da sustentabilidade, têm período de validade previsto no acordo financeiro. Uma vez que o prazo termine, os processos devem estar prontos para serem geridos com práticas sustentáveis, ou seja, sem suporte externo, sem prazo ou limites para operar.
SUSENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE
Já estudamos a diferença dos termos “sustentabilidade e sustentável”, tendo sido explicado e exemplificado no artigo JGE, em 23 de junho 2024. Clique aqui para acessar.
Portanto, uma vez que o leitor esteja inteirado sobre o fator “tempo” (período ou prazo) implícito ao aporte financeiro à sustentabilidade, poderá então perceber o valor da Gestão de Emergências e o benefício do planejamento estratégico para chegar ao sustentável.
O MERCADO DO TURISMO E HOSPITALIDADE
Muitos profissionais de hospitalidade e turismo cultural/ambiental tomam por pressuposto que o seu local de trabalho permanecerá inalterado, com as rotinas bem-intencionadas e direcionadas a proteger a cultura de grupos sociais e a natureza em seus entornos. No entanto, não há possibilidade de garantir isenção, pois os visitantes ao se aproximarem e até mesmo ingressarem no cotidiano das famílias tradicionais e no meio-ambiente promovem diferentes níveis de intercessões, causando alterações, mesmo que sutis.
Por menores que sejam as interferências elas influenciarão ambos os lados da convivência.
Essas são premissas de consumo de turismo e hospitalidade que se sabe ter potencial de ameaçar as fragilidades dos destinos culturais e ambientais. Ao colocarmos esses conjuntos socioculturais sob a ótica da gestão de emergências, é possível identificar as ameaças.
São os detalhes sutis e as subjetividades das diferenças culturais que ao longo do tempo provocam os desastres crônicos.
A interpretação acadêmica define esse processo como evolução. Não é.
O turismo cultural e ambiental enceta riscos de longa, média e de curta duração.
As formas agudas (curta-duração) são as mais comuns e incluem, assédio, furtos, drogas, doutrinação, confrontos com vizinhos e aumento súbito do consumo, por exemplo.
As formas crônicas (longa-duração) são menos perceptíveis, pois se dão paulatinamente e, por isso não são percebidos pelos gestores, uma vez que a origem está na própria atividade lúdica oferecida aos visitantes. Diferentes culturas desnaturam o destino.
Essas constatações se deram a partir de estudos da Ciência das Emergências que aplica uma visão antecipada por meio da disciplina Gestão de Emergências, colocando no radar ameaças potenciais. As medidas de tratamento precisam vir antes dos efeitos irreparáveis. Esse é o verdadeiro propósito do plano estratégico e, a inequívoca solução é a Educação.
O propósito é proteger ambos os lados da relação que se dá entre o receptivo e visitantes. Para isso, há que preparar os operadores para que reflitam a essência do ESG aplicado ao turismo cultural e ambiental. Os três setores envolvidos na equação precisam de Educação.
UM EXEMPLO EMBLEMÁTICO
Sem plano estratégico, ou melhor, com o plano estratégico tendo sido deturpado em sua essência ESG, a ilha oceânica de Fernando de Noronha entrou no radar como um dos destinos mais cobiçados e esse desejo desenfreado causou danos irreparáveis à cultura.
Mundialmente, o consumo de “naturezas e culturas” iniciaram nas décadas de 1970-1980, período em que ocorreram profundas mudanças paradigmáticas nas percepções.
No artigo JGE “A (des)preparação pública (11/06/2024)” o leitor pode conhecer alguns elementos dos percalços que vêm resultando das políticas canhestras desde 1995.
O INÍCIO DO INÍCIO
O desembarque de Américo Vespúcio em 1503 no arquipélago, que depois foi doado ao fidalgo Fernando de Noronha, resultou da necessidade de obter água e alimento extra para os marinheiros resgatados do naufrágio da Capitânia de Gonçalo Coelho.
Após mais de duzentos anos de abandono, a primeira ocupação efetiva feita pelos portugueses data de 1726 a 1737, com a construção das fortificações e do presídio.
O FIM DO INÍCIO
Dentre as atividades civis que sucederam o período militar (1987), estavam grupos de cientistas que estudavam os fenômenos naturais das ilhas vulcânicas no Atlântico Sul.
O arquipélago de Fernando de Noronha é o que possui as melhores condições de acesso e de instalações em relação às demais ilhas oceânicas, como Trindade e Martins Vaz, os penedos de São Pedro e São Paulo e o Atol das Rocas, que têm abrigos rudimentares.
O INÍCIO DO FIM
Logo que o então Ministério do Interior assumiu a administração de Fernando de Noronha em substituição ao EMFA - Estado Maior das Forças Armadas, o suporte financeiro enviado de Brasília tinha o objetivo (dissimulado) de “preparar” a infraestrutura envelhecida para que a população civil pudesse, a partir daí, (fingir) alcançar sua autonomia econômica. A esse processo, chamamos de princípio da sustentabilidade (financiamento com prazo).
Para organizar o processo e continuar com a farsa de estar a levar a população local a assumir seus desígnios sob o conceito de desenvolvimento sustentável, foram realizadas oficinas de planejamento com foco participativo, ou seja, para encontrar um tipo de atividade produtiva que os ilhéus elegeriam para conduzir a sua autonomia administrativa.
Sem muita dificuldade, foi logo possível entender que as oficinas de planejamento estavam sendo meras encenações mambembes, ou seja, o governo federal já tinha um plano, e para implementá-lo precisava retirar de Noronha aquela gente e colocar lá a sua gente.
Diante de todas as opções sugeridas pelos ilhéus, as equipes de transição nunca chegavam à concordância e insistiam ser o turismo a única solução. Os argumentos contra o turismo e as evidências de estragos que essa atividade já havia provocado em outras ilhas no mundo eram rebatidas com as mais surradas frases de efeito, tais como:
Nós faremos diferente ...
Nós aproveitaremos as experiências dos outros ...
Nós não iremos cometer os mesmos enganos ...
Nós sabemos preservar o que é nosso ...
Nós amamos Fernando de Noronha e queremos o melhor para vocês ...
Nós estamos vivendo a revolução ambiental e serviremos de exemplo.
Mas não havia explicação para justificar quem eram esses "NÓS", pois eles não deveriam estar inseridos no "nós" representativo da população local que administraria as ilhas.
FOI MAIS DO MESMO
A contumaz prepotência dos tomadores de decisão permanecia indómita na condução da oficina, apresentando apenas soluções de interesses deles, os enviados para ludibriar.
Os porta-vozes de Brasília fingiam considerar as opiniões dos ilhéus, mas o objetivo era o plano previamente estruturado.
O MENINO FERNANDINHO DE NORONHA
Na sequência das reuniões com os enviados recalcitrantes, uma analogia foi traçada, supondo que a população era uma criança e, como tal, sem estar sob tutela, deveria ser ela a decidir o que desejaria para o seu futuro. No entanto, os ali reunidos queriam eles propor as alternativas para que o menino Fernandinho Noronha iniciasse a jornada rumo ao futuro.
Contrapondo a todos, a pergunta indigesta foi: mas o que o Fernandinho gostaria de ser?
Para os alienígenas, Fernandinho poderia ser “crupiê de cassino” a ser aprovado na Constituinte, ou “ator de telenovelas”, devido a sua beleza estonteante, ou “guia de turismo ecológico”, já que as ilhas eram um “paraíso”, ou quem sabe ele poderia ser “pescador oceânico” devido à sua natural aptidão aos ofícios do mar, ou simplesmente serem eles mesmos, os ilhéus, uma atração turística, tutelada e exposta aos vícios e luxúrias dos degenerados que já estavam chegando, arregimentados pelas agências de viagens mundo-afora. Será?
Vamos ver a seguir.
A argumentação dos ilhéus era insistente. O Fernandinho não precisava que alguém lhe dissesse o que ser ou o que fazer. Fernandinho, aquela ilha-criança, independentemente de suas qualidades ambientais e atributos culturais únicos no Atlântico Sul Equatorial, precisava estudar, e, somente então chegaria o momento de ele decidir o seu destino.
Até que isso pudesse acontecer, até que a população estivesse esclarecida, os cientistas que já estavam em Noronha, auxiliariam no processo educacional, abrindo vagas para estágios, firmariam convênios com universidades nacionais e contratariam intercâmbios com organizações internacionais de estudos sobre ilhas oceânicas e populações insulares.
Exemplos incluíram a AQUATER (italiana) – relacionada a águas termais; a COIPA (italiana), relacionada a construção de embarcações “sustentáveis” para engajar na pesca oceânica; a CISP, (Bruxelas), com financiamento a fundo perdido da União Europeia, destinado a fortalecer as comunidades insulares tradicionais para se protegerem do assédio de cruzeiros marítimos, como ocorre nas ilhas caribenhas. Também, os estudantes noronhenses participariam como marinheiros estagiários em programas de navegação de longo curso, onde são formados Oficiais de Náutica e Máquinas da Marinha Mercante.
Aquela população insular não precisava de tutela alguma – precisava de educação. Só isso;
Aquelas pessoas tradicionalmente residentes em Noronha teriam a oportunidade de se engajarem em atividades com as quais tivessem maior afinidade: que poderiam ser bem diferentes de tudo que estava sendo sugerido pelos pretensos tutores políticos.
Aquelas pessoas vindas do continente, estavam a preparar os meios para se apropriarem das oportunidades criadas pelo hiato deixado com as mudanças de comando. Diante das insistentes argumentações contrárias, os coordenadores dos projetos científicos uniram esforços com a população local para defender os pontos de vista mais razoáveis, alinhados ao Tratado da Jamaica.
OS NOVOS RUMOS DAS SOBERANIAS
O Tratado da Jamaica (1982), buscou proteger as comunidades insulares contra investidas de oportunistas que aproveitavam o recente fenômeno social, aquele que de um momento para outro transformou as ilhas-prisões em objetos de desejo e de consumo idílico pelos descolados ridículos – e isso já estava a acontecer ao redor do mundo.
PARA ENTENDER MELHOR
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), é um tratado multilateral celebrado em Montego Bay, Jamaica, a 10 de dezembro de 1982, que definiu e codificou conceitos herdados do direito internacional por costumes, referentes a assuntos marítimos, como “mar territorial, zona econômica exclusiva, plataforma continental” e estabeleceu os princípios gerais da exploração dos recursos naturais das ilhas e do mar, como os recursos vivos, os do solo e do subsolo, da gestão e do controle da poluição.
Tribunal Internacional de Direito do Mar
A CNUDM também criou o Tribunal Internacional do Direito do Mar, competente para julgar as controvérsias relativas à interpretação e à aplicação do tratado. Participaram da conferência mais de 160 Estados, e o Brasil ratificou a Convenção em 1988, ano em que as oficinas estavam ocorrendo para decidir o destino do Fernandinho.
A Lei brasileira 8.617, de 4 de janeiro 1988, adotou o conceito das ZEE – Zonas Econômicas Exclusivas sobre o mar territorial de 200 milhas, sem o uso de forças militares e deu garantias às populações tradicionais.
Mas a de convir que os interesses de Brasília e Pernambuco estavam a pressionar e, por isso era preciso que Fernandinho ficasse muito bem-preparado para resistir ao impacto de um desastre social anunciado.
Como vimos, as mudanças estruturais no planeta na década de 1980 tornaram injustificáveis manter guarnição militar ou outra forma de proteção territorial que usurpasse o direito natural das comunidades tradicionais. Portanto, não havia em Noronha argumento plausível que pudesse contradizer que a presença da população civil era a melhor e a mais forte defesa, principalmente quando associada a projetos científicos nacionais e internacionais.
A INFAME DISSIMULAÇÃO
Diante da recusa à tutela que estava a ser imposta, a estratégia nefasta do governo federal foi travestir a sua presença na ilha com uma aberração institucional que buscou se passar como ciência: o ICCA – Instituto Cultural e Científico do Arquipélago. O ICCA se imiscuiu com as pesquisas e ensinos que já estavam em Noronha, para corromper tudo por dentro.
O ICCA recebia de Brasília aportes financeiros vultuosos. Os objetivos do ICCA nada tinham a ver com estudos e pesquisas, além de somente exibir um nome pomposo. O ICCA estava exclusivamente voltado a execução das obras de revitalização das edificações oitocentistas (Forte e Igreja N.S. dos Remédios), da rodovia BR363, do aeroporto e construção de um atracadouro de carga e descargas marítimas: só para isso servia o ICCA.
O ICCA era o governo biônico. As obras de infraestrutura avançaram a despeito de as discussões nas oficinas com foco participativo não terem chegado a um consenso.
Os alicerceares para desembarques de aviões e cruzeiros marítimos avançaram imenso.
A COMPRA DOS DIREITOS NATURAIS
A participação dos ilhéus nas discussões ficou esmagada pelo rolo compressor das verbas despejadas, que além de pagar pelas obras serviam para comprar os direitos naturais das pessoas vulneráveis a encantos e promessas.
Muitos nativos mudaram de opinião, deixaram de participar nas reuniões e aderiram rapidamente a ofertas irrecusáveis. O velho lema “dividir para governar”, foi adotado pelo ICCA que promoveu na comunidade insular um cenário circense de benfeitorias, de empregabilidade efêmera, de promessas que encobriam as decisões espúrias e unilaterais vindas do governo federal. O ICCA nasceu para isso e, logo após isso, desapareceu.
A TUTELA CATIVA O TUTELADO
Estudos revelam que grupos sociais que viveram por séculos sob o sustentáculo de soberanos, não sabem viver sem a tutoria. A maioria dos membros sem preparação se sente mais seguro sabendo que “alguém” cuidará do que deve ser feito e do como fazer.
É mais fácil assim, disseram os que sucumbiram a tutela.
Historicamente, a formação da pequena comunidade civil insular de Fernando de Noronha resultou de uma grande multiplicidade de origens de um Brasil multicultural. Também há que se considerar os objetivos dos que para lá foram enviados à revelia de suas vontades. Em geral eram os indesejáveis da coroa portuguesa, como os negros capoeiristas e insurgentes, como os próprios carcereiros, e não somente os apenados. Ninguém por vontade própria iria viver naquela ilha-prisão: isso até o Dia da Terra, quando tudo mudou.
A diversidade de atribuições assumidas na administração do arquipélago não era casuística, mas pensada. Assim, diante destas realidades de origens diversas não estava sendo fácil conduzir aquela população isolada a autodeterminação, por isso, sem relutância, muitos residentes tradicionais cederam a tentação das remunerações ardilosas.
A SOBERBA DOS SOBERANOS
As ilhas em geral, e não apenas o arquipélago de Fernando de Noronha, a partir da segunda metade do século 20, entraram no consciente coletivo como um local de desejo. Antônio Carlos Diegues em seu livro Ilhas e Mares - Simbolismo e imaginário (1998), explica que povos insulares têm uma característica comum por viverem em “ambiente polissêmico”.
Na Expo-98 em Lisboa, o tema Oceanos referia ao conhecimento humano das ilhas e mares, por serem um domínio da imaginação, de seus temores e de seus encantamentos.
É válido lembrar que as populações das ilhas costeiras do Brasil diferem do contexto social das ilhas oceânicas, tanto pelas distâncias e tipos de acesso, como pelos objetivos da ocupação. Fernando de Noronha começou a ser habitada com objetivo de defesa estratégica, e o presídio foi uma opção.
Os comandantes da colônia penal instalada em Noronha ficaram conhecidos por suas atitudes despóticas, um tipo de comportamento que foi reencenado pelo governador nomeado pelo então presidente José Sarney, quando o Ministério do Interior assumiu o controle no final de 1987, e pelos que o sucederam, vindos de Recife em 1989, após a reanexação do Território Federal de Noronha ao estado de Pernambuco pela Constituição de 1988. Esses administradores deram à polissemia de Diegues um novo contorno.
O então Território Federal passou a ser um Território Estadual (figura administrativa até então inexistente) sob o comando do governador de Pernambuco. A partir deste momento histórico a definição Neurose de Noronha reacendeu. Os comportamentos histriônicos ficaram evidentes naquelas pessoas com algum transtorno de personalidade, pois continuamente elas buscavam ser o centro das atenções. Impressiona ver como esse padrão de personalidade é encontrado entre os que hoje residem e os que hoje visitam.
Morar em Noronha vira sobrenome enquanto visitar Noronha vira status social.
As atitudes dos que assumiram a administração do arquipélago contribuíram com o início das permissividades luxuriantes, estimulando os desejos límbicos que hoje vicejam por lá.
GESTÃO DE DESTINOS TURÍSTICOS
A finalidade precípua da Gestão de Emergências é antecipar as visões, pensar o impensado e interpretar as condutas, tanto individuais como coletivas que sinalizam a probabilidade de estarem a produzir aqueles fatores que conduzem a desastres crônicos.
Esses desastres diferem substancialmente dos impactos agudos na medida em que têm origens nas interfaces das culturas tradicionais com os interesses econômicos das sociedades industriais. O entretenimento do turismo cultural é a vida dos outros.
Sabemos que qualquer hiato no comando de um grupo social, será logo ocupado por alguém que se enxergue como o "próximo na fila do pão". Em Noronha, como vimos acima, devido a multiplicidade de origens dos moradores do arquipélago e da diversidade de objetivos pouco alvissareiros que empurraram essas pessoas até lá ao longo de décadas, não houve a possibilidade de coesão entre os residentes para que pudessem se organizar e ocupar o vazio da liderança deixada pelos militares. Essa fragilidade comunitária possibilitou que os nomeados pelos governos de Brasília e Recife dominassem os postos-chave e daí, com energia ditatorial, desestimulassem quaisquer iniciativas autóctones.
O TURISMO EM FERNANDO DE NORONHA
Qual o modelo de turismo que a população local, sem preparação, sem investimento em educação e sem infraestrutura logística poderia adotar? O que esses residentes tradicionais entendiam sobre gestão de destino turístico insular oceânico? A resposta é simples: nada. Não sabiam absolutamente nada. Quando essa proposta foi trazida pelos políticos de plantão havia no horizonte instalar o cassino. Mas a Constituinte que estava em curso não aprovou a volta dos Jogos de Azar, mas a bancada do Nordeste já havia aprovado a reanexação do então Território Federal ao estado de Pernambuco.
O tiro saiu pela culatra.
Os pernambucanos ficaram sem a opção do cassino para impulsionar o tipo de turismo obsoleto que haviam planejado. Essa condição andrajosa colocada sob a lupa da Gestão de Emergências evidenciou os fatores que se somaram para produzir o desastre crônico.
É possível afirmar que o tipo de turismo pretencioso que para lá foi destinado, sem objetivos consistentes, calcados apenas em fetiches de belezas naturais e de paraíso, foi a receita para que o prazer, a luxúria e seus percalços vicejassem.
Como já estão a vicejar. Acesse no Google: Sexualidade em Noronha
ANÁLISE CONTEXTUAL
Quando a administração foca objetivos indecifráveis à luz da razoabilidade, o resultado será conduzir ao longo das décadas o destino turístico ao desastre cultural e ambiental crônicos.
Este exemplo de Fernando de Noronha tem a finalidade de mostrar ao leitor JGE como em três décadas o desastre crônico se deu como decorrência de fatores concorrentes. Por um lado houve a orientação de se remover militares e deixar a soberania a cargo dos grupos sociais originais, mas isso não aconteceu. Por outro lado, o paradigma do “aí-que-lindo" que traveste os sentimentos dos que visitam locais de banimento, sofrimento e desgraça.
A percepção canhestra dos visitantes ofuscados pelo Marketing passou a enxergar as antigas masmorras e cárceres de suplício humano como atributo cultural venerável.
A partir desta "dissonância cognitiva", o próximo passo foi ir além e provocar os estímulos límbicos primordiais que afloram no conjunto de experiências sensoriais díspares. Embora possam parecer inofensivas, essas visões humanas possibilitam criar e destruir. Quando o objetivo é apenas sensorial, em detrimento do funcional, os valores morais se desvanecem e o que fica é a depressão e incompreensão dos nativos: como isso aconteceu?
Foi tudo tão rápido, mas nem tanto.
O grito de “perigo” já estava solto na garganta desde 1989.
O objetivo político irresponsável de levar pessoas a destinos tão singulares como Noronha, concorre em alguns aspectos para impactar, sem poupar dos males que se apresentam com muitos tons de cinza (desastre crônico) e, por isso passam despercebidos ao longo tempo.
Um detalhe a ser reiterado é o fato de as agências, operadores e políticos entrarem no afã e falharem em perceber que o impacto do desastre atingirá a eles, e não só aos outros: todos perdem, e isso não é só para o turismo, mas para inúmeras decisões desastradas.
A afirmação de que não cometeriam o mesmo erro dos outros destinos caribenhos era mentira. Cometeram sim. Repetiram os mesmos erros sabendo quais seriam os resultados.
A INTERRUPÇÃO E A DETURPAÇÃO
O aspecto essencial da gestão de emergências é dar suporte para os administradores lidarem com as propostas que logo adiante têm potencial de ameaças e interrupções.
O desejado “estado natural de prontidão” resulta da determinação e da perseverança.
Essa condição tem sua base nas boas práticas de planejamento, para proteger uma localidade, uma organização, ou um destino turístico que coloca a cultura sob pressão. Sugerimos que o leitor JGE procure saber quais as funções que os nativos de Noronha que ainda permanecem no arquipélago ocupam atualmente. Há no mundo um processo de revisão dos pressupostos benefícios que o turismo ambiental proporciona aos povos locais.
No âmbito da preservação da natureza são os métodos e práticas adotados que atuam para não provocar distúrbios ambientais. Da mesma forma, a preservação dos negócios empresariais requer que as lideranças adotem métodos e práticas para não provocar desnaturação das culturas tradicionais. Essas práticas são imperativas para orientar as administrações típicas das sociedades emergentes que têm muita pressa e, por isso estão sempre a pular etapas e a escorregar. O termo "emergente" têm a ver com EMERGÊNCIA, e, as emergências que não forem controladas levam fatalmente ao DESASTRE. Essa é uma lei da natureza e, para lidar com ela foi preciso desenvolver a GESTÃO DE EMERGÊNCIAS.
Os passos apurados frequentemente levam a quedas estrondosas.
Os passos rápidos com voos contínuos destrói o ritmo natural das populações tradicionais.
A gestão estratégica para cuidar da natureza indica que:
O primeiro passo cuidadoso é desenvolver o Plano de Ações em Emergências.
O segundo passo cauteloso é o Plano de Continuidade dos Negócios (e culturas).
O terceiro passo vigoroso é desenvolver o Plano para Recuperação de Desastres.
São três tipos de planos que contêm estratégias peculiares. Os planos, não são iguais, mas concorrem passo a passo para prevenir, mitigar, resistir e responder a tempo para não ter que recuperar de desastres crônicos, pois são comparáveis a quebra das taças de cristais.
É preciso entender as particularidades para obter os benefícios dos três planos.
LEMBRE-SE: A EMERGÊNCIA NÃO CONTOLADA É UM DESASTRE
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