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EDUCAÇÃO EM PRIMEIROS SOCORROS

  • Foto do escritor: Randal Fonseca
    Randal Fonseca
  • 9 de jun.
  • 16 min de leitura
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A parada cardíaca primária é um grave problema de saúde pública, nas famílias, comunidades e político-social.


 A ressuscitação cárdio-cerebral (RCC) foi instituída em Tucson (AZ, EUA) em 2002, e passou a ser adotada em outras áreas dos EUA, fundamentada em estudos, sem ter objetivo de orientar procedimentos para parada súbita do coração (parada cardíaca primária), ou seja, quando a vítima colapsa subitamente e alguém testemunha, vendo ou ouvindo.



A parada cardíaca primária é um grave problema de saúde pública nas nações industrializadas. No entanto, apesar das recorrentes atualizações das diretrizes para ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e cuidados cardíacos de emergência (CCE), publicadas pela American Heart Association (AHA), muitas regiões no mundo ainda apresentam baixíssimas taxas de sobrevivência. Porém, as evidências científicas indicaram que as taxas de sobrevivência de pacientes em parada súbita do coração, como decorrência de uma arritmia chocável (FV e TV), melhoraram significativamente nas localidades em que foram adotadas a RCP com DEA, serviços de emergências médicas pré-hospitalar e tratamento hospitalar de qualidade.  


A ressuscitação cárdio-cerebral (RCC) considera três componentes essenciais:

a)       Comunidade

b)      Serviços de emergências médicas pré-hospitalar

c)       Tratamento no hospital.


Para o componente “comunidade” a RCC enfatiza a necessidade do reconhecimento imediato por parte de pessoa que tenha testemunhado a vítima colapsar e que inicia a RCP Só-compressões.


Para o componente “Serviços de emergências médicas pré-hospitalar” a RCC enfatiza:

1.       Iniciar 200 compressões ininterruptas antes e depois de cada choque.

2.       Intubação endotraqueal para fornecer oxigênio com pressão positiva através da BVM.

3.       Administração de Epinefrina.


Para o componente “Tratamento no hospital” a RCC considera ser o tratamento final.


As diretrizes nacionais e internacionais para ressuscitação cardiopulmonar e serviços de emergências médicas pré-hospitalar ainda não alcançaram um estágio satisfatório, por vários motivos, incluindo o fato de que continuam a recomendar a mesma abordagem para duas etiologias inteiramente diferentes: parada cardíaca primária e parada cardíaca secundária.


A parada cardíaca primária ocorre na maioria das vezes por fibrilação ventricular (FV), onde a oxigenação do sangue arterial fica pouco alterada. No entanto, a parada cardíaca secundária, ocorre por causa da insuficiência respiratória grave. Neste caso, o sangue fica sem saturação de oxigênio e provoca a parada cardíaca. O tratamento para essas diferentes etiologias não pode ser o mesmo, precisa ser diferente.


ENQUADRAMENTO

As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morte na maioria dos países industrializados. Infelizmente, o primeiro sinal de doença cardiovascular muitas vezes é o último, uma vez que o sinal é geralmente a própria parada súbita do coração.

Nos EUA, a idade média dos homens com parada súbita do coração se dá nos meados dos 60 anos. No Japão, é nos meados dos 70 anos. Um homem norte-americano de 40 anos de idade tem uma possibilidade em oito de sofrer uma parada cardíaca repentina durante a vida. Essa condição provavelmente é igual a outros países industrializados.


Desta forma, a parada cardíaca se torna um importante problema de saúde pública.


Devido às diferenças na etiologia, a parada cardíaca deve ser classificada em duas categorias. A grande maioria fica dentro da categoria de parada cardíaca primária. A parada cardíaca secundária, de insuficiência respiratória (como o afogamento ou overdose de drogas) é menos comum, mas ainda é um problema importante de saúde pública. Portanto, o tratamento ideal deve ser adaptado à etiologia de uma e de outra forma da parada cardíaca: ressuscitação cárdio-cerebral (RCC) para parada cardíaca secundária e ressuscitação cardiopulmonar (RCP) para a parada cardíaca primária (Fig. 1) que apresente um ritmo chocável.

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Figura 1: os três componentes da parada cardíaca primária com ritmo de chocável.


A partir do ano 1998, a comunidade com o advento do DEA e da RCP - AHA, e, em 2000, com o componente ACLS pré-hospitalar foram iniciados no Arizona (EUA). Então a partir de 2007, foi adicionado o componente hospitalar de Centro Especializado em Tratamento Cardíaco e Cuidados pós-ressuscitação. O ACLS – Suporte Cardíaco Avançado de Vida; DEA, Desfibrilador Externo Automático e RCP-SC (RCP Só-compressões, do Inglês: Compression-Only CPR) foram indicados apenas para a ressuscitação cardiopulmonar de adultos que colapsam subitamente fora do hospital. O que é definido como sinal de parada cardíaca primária – por falha cardíaca.


Os principais determinantes da sobrevivência de indivíduos na condição de parada cardíaca primária testemunhada, com ritmo chocável, compõem o subconjunto com a maior probabilidade de sobreviver.


Esses componentes são:

a)       o reconhecimento imediato e resposta adequada;

b)      a terapia inicial pelo Resgate (pré-hospitalar) e

c)       o tratamento pós-ressuscitação no hospital.


As diferentes abordagens para parada cardíaca primária e para parada cardíaca secundária são fundamentalmente importantes. Uma das principais razões para essas diferenças nas abordagens terapêuticas para ressuscitação está na oxigenação do sangue arterial no início das paradas cardíacas.


Na parada cardíaca primária, a oxigenação do sangue é normal no momento da parada e, pelo fato de o fluxo sanguíneo diminuir e rapidamente parar, a oxigenação do sangue arterial permanece normal por vários minutos. Por outro lado, no afogamento ou outras causas de insuficiência respiratória, o coração continua a bater e a fazer circular o sangue por algum tempo, mas devido à falta de ventilação, o sangue arterial torna-se progressivamente anóxico, tornando-se escuro; e, é por esse motivo que ocorre a fibrilação ventricular (VF) ou a assistolia tardia. Durante os estágios iniciais da insuficiência respiratória, antes da parada cardíaca, as ventilações podem fazer toda a diferença e isso é essencialmente necessário para a sobrevivência. Após a parada cardíaca, então será necessário adicionar as compressões torácicas associadas às ventilações. Em ambos os casos, quando a parada ocorre, a RCP-C de alta qualidade pode salvar.


Taxa de sobrevivência de PCREH vem se mantendo igual por décadas

Apesar de as "Normas” da AHA desde 1974, seguidas das Normas e Diretrizes da AHA" de 1980, "Diretrizes da AHA" de 1986, e das "Atualizações de Diretrizes da AHA" em 1992, 2000 e 2005, a taxa de sobrevivência das vítimas de parada cardíaca fora do hospital, nos EUA, teve a média de 7,6% inalterada entre 1978 e 2008. Nos EUA, a sobrevivência de vítima em PCREH secundária, que tem a maior possibilidade de sobreviver, também tem a taxa inalterada há décadas, com uma média de 17,7%.

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O conceito da "corrente da sobrevivência cardíaca" (imagem acima) publicada pela Cummins & Associados em 1991, representou uma grande contribuição à ciência da ressuscitação. No entanto, se sabe que qualquer corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco. E o elo mais fraco na "corrente da sobrevivência cardíaca" foi o elo que representa a RCP aplicada pela pessoa que presencia a parada súbita do coração. Nos países em que esse elo não existe como elemento imprescindível para formar a corrente, a condição é ainda muito pior do que se ter esse elo sendo “o elo mais fraco”.


Assim, a RCP aplicada por alguém que testemunha a vítima colapsar foi de 32% em Nova Iorque, 21% em Detroit, 15% em Ontário, Canadá 28%, no Japão 25% e em Cingapura 25%, segundo os dados registrados em 2009 e, de 28,6% segundo os dados registrados em 2012. Ou seja, apenas cerca de uma em cada quatro vítimas em PCREH, nos EUA, recebeu RCP da pessoa que presenciou a parada cardíaca.


Os estudos demonstraram que uma das principais razões da baixa taxa de RCP aplicada por testemunhas estava relacionada ao requisito que, por décadas, exigia que fossem aplicadas as insuflações boca-a-boca (duas insuflações de resgate) como o primeiro passo da RCP. Pelo receio de aplicar as insuflações boca-a-boca (BAB), especialmente em estranhos, as testemunhas, incluindo pessoal médico, muitas vezes preferiam chamar o Resgate e aguardar a chegada da ambulância, sem receber nenhuma instrução por telefone de como proceder neste interim. Essas vítimas raramente sobreviveram. Porém, a insuflação BAB não é o único motivo para a falta da RCP imediata aplicada por testemunhas. Uma pesquisa no Arizona, em 2009, descobriu que os motivos da relutância de as testemunhas aplicarem a RCP incluía o medo ou receio de:

a)         Fazer contato boca-a-boca;

b)        Agravar a condição da vítima;

c)         Responsabilidades legais (jurídicas);

d)        RCP errada;

e)        Incapacidade física para aplicar a RCP.


Essas condições identificadas devem ser consideradas para melhorar os índices da RCP aplicada pelas pessoas que presenciam a PCREH.


Pesquisas sobre a ressuscitação conduz a novas abordagens

Desde 1990, o grupo de pesquisa do Centro de Ressuscitação da Universidade do Arizona, recomendou "RCP Só-Compressão” (RCP-SC) para parada cardíaca primária testemunhada.


Nos estudos com animais em FV, os pesquisadores descobriram inicialmente que a sobrevivência era semelhante tanto com RCP-SC e RCP-C. A RCP-SC em seres humanos, naquela época, era recomendada a partir de um estudo de Hallstrom que associava a RCP a instruções repassadas pelos telecomunicadores dos centros de controle de emergências do sistema 911 à pessoa que havia testemunhado a PCREH. Os resultados identificados nos estudos demonstraram que a RCP-SC era tão eficaz quando a RCP-C. Mais tarde, um estudo importante realizado pela SOS-KANTO, do Japão, veio dar suporte às convicções iniciais.


Reconhecimento da parada cardíaca primária


O que significa parada cardíaca primária? 

Esse tipo de parada do coração deve ser definido como “um colapso súbito e inesperado presenciado (visto ou ouvido) de um adulto que fica inconsciente e não apresenta sinal de respiração normal”. Essa definição inclui “e não está respirando normalmente” uma vez que, em geral, a frequência e a natureza da respiração presenciada são em forma de “ofego”, para a maioria das paradas cardíacas primárias e, é importante ressaltar que esse sinal importante não é considerado. Esse detalhe factual deve fazer parte inseparável do ensino da RCP para reiterar o pronto-reconhecimento da parada cardíaca primária: não respira normalmente.


Insuflações continuadas após a parada cardíaca primária

Os estudos em suínos demonstraram que logo após a Fibrilação Ventricular (FV) o animal continuava a respirar normalmente pelo primeiro minuto após a FV. Esse fenômeno, segundo o autor da pesquisa, não havia sido documentado em vítimas humanas; então isso é uma oportunidade para os socorristas passarem a observar. Para o pessoal médico que trabalha com técnicas sofisticadas nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) há uma oportunidade única de observar tanto o eletrocardiograma como a ventilação monitorizada.


Ofego após a parada cardíaca primária

Nos laboratórios da Universidade do Arizona, os pesquisadores identificaram que após indução de FV em porcos, a respiração do animal continuava por cerca de um minuto. O ofego começava no segundo minuto após a parada cardíaca, seguido de baixa frequência, crescendo-e-decrescendo (oscilando) o padrão até parar seis minutos depois da parada cardíaca. O pesquisador, Clark e & Associados relataram que o ofego estava presente em 55% das vítimas testemunhadas em PCREH. O prognóstico das vítimas em PCREH é muito melhor quando o ofego está presente. No estado do Arizona, EUA, cerca de 39% das vítimas em PCREH que apresentavam ofego na chegada do Resgate sobreviveu, comparado com apenas 9% das vítimas que não apresentavam ofego.

Portanto, para melhorar a possibilidade de sobrevivência da vítima em PCREH, o importante é reconhecer o sinal de ofego como indicador de parada cardíaca primária recente. Essa informação deve ser enfatizada nos programas de ensino da RCP.


Obviamente, se houver um DEA disponível, o aparelho deverá ser aplicado por qualquer pessoa que testemunhe uma parada cardíaca primária, ou se não souber, ou se não puder usar o DEA, o indivíduo deverá pedir que outra pessoa aplique o DEA, de acordo com as normas e legislação local.


RCP Só-compressão (RCP-SC) melhora a sobrevivência de animal em FV

O grupo de estudos no Centro de Pesquisa de Ressuscitação com RCP da Universidade do Arizona (EUA), publicou seis trabalhos de investigação em 169 porcos que variavam a duração da FV antes de ser iniciado o suporte básico de vida (SBV) com:

a)       RCP-SC (RCP só compressão)

b)      RCP-C em que as ventilações eram aplicadas em intervalos de 4 segundos, ou

c)       Sem aplicar a RCP por cerca de 5 a 7 minutos, para simular a ausência de alguém presente que pudesse aplicar a RCP até a chegada tardia do Resgate.


A sobrevivência foi de 73% com RCP-SC, 70% com RCP-C de alta qualidade, e 7% sem RCP. Esses cenários trouxeram informações importantes para consubstanciar e enfatizar a recomendação que, desde os anos 1990, já indicava ser essencial iniciar os procedimentos com a RCP-SC, em vez de as testemunhas iniciarem com a RCP-C em parada cardíaca primária.


Pontos de referência observados para RCP aplicada por testemunhas (RCP-BS)

Durante décadas, as diretrizes da RCP ficaram fundamentadas no pressuposto de que "duas insuflações rápidas" interromperiam cada ciclo de compressões torácicas por apenas quatro segundos. No entanto, uma observação contundente, que fez história, foi publicada no ano 2000, demonstrando que os leigos não conseguiam chegar sequer perto dessa velocidade ao aplicar a RCP-C.


Um grupo de autoridades internacionalmente reconhecidas ensinou as "Diretrizes da RCP Convencional" a um grupo de leigos. Na conclusão da sessão, eles gravaram vídeos em que esses indivíduos recém-credenciados para aplicar a RCP aplicavam a técnica em manequins. Ao revisar os vídeos, houve uma surpresa quando constataram que eles interrompiam as compressões em uma média de 16 segundos para aplicar as "duas insuflações rápidas" entre cada ciclo de compressões torácicas.


Se os leigos credenciados não conseguiam garantir a interrupção recomendada de 4 segundos requeridos pelas “Diretrizes”, então a questão foi levantada para se avaliar com qual rapidez os mais experientes instrutores de RCP interromperiam as compressões torácicas para aplicar as "duas insuflações rápidas". Descobriu-se posteriormente que os estudantes de medicina interrompiam as compressões em média 13 segundos e os paramédicos interrompiam as compressões em média de 10 segundos para aplicar as "duas insuflações rápidas".


Perfusão cerebral durante a RCP-BS para PCREH  

Foram necessários muitos anos de pesquisa para revelar a importância da RCP-SC para a perfusão e sobrevivência do miocárdio, mas foi ao ouvir uma gravação da conversa entre um telecomunicador de emergência com a esposa que recebia instruções telefônicas para aplicar a RCP-C, que possibilitou perceber os efeitos deletérios das interrupções, mesmo curtas, nos ciclos de compressões torácicas. Naquela gravação da chamada de emergência é possível perceber que deve ter decorrido algum tempo antes que os paramédicos chegassem à cena, e ouvissem a esposa perguntando ao telecomunicador: "Por que sempre que eu comprimo o peito do meu marido ele abre os olhos e toda vez que eu paro de comprimir para insuflar ele volta a fechar os olhos?" Obviamente, o fluxo sanguíneo para o cérebro do marido em parada cardíaca primária ficou inadequado logo após as compressões torácicas terem sido interrompidas, para aplicar as insuflações BAB.


Uma nova forma de compreender a fisiopatologia da parada cardíaca primária


Muito foi aprendido em 2002 sobre a fisiopatologia da parada cardíaca primária (FV) durante estudos feitos em suínos no laboratório de pesquisa de Dr. Stig Steen, M.D., Ph.D. em Lund, na Suécia. No relato, do pesquisador a FV no porco causou congestionamento venoso, no lado esquerdo do coração e distendeu muito o lado direito em três minutos. As pesquisas revelaram que durante os primeiros minutos da parada cardíaca por FV, o sangue passa do sistema arterial, onde há alta pressão, para o sistema venoso de baixa pressão, resultando em uma diminuição do volume do ventrículo esquerdo ((RCP-BS) e provoca um aumentando acentuado no volume do ventrículo direito (VD) (Fig. 2). Este aumento acentuado no volume do VD (que tem paredes finas) provoca constrição pericárdica e diminui o volume do VE, contribuindo para a atividade elétrica sem pulso que, em geral, é observada após a desfibrilação tardia.

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Figura 2. Mudanças no volume sanguíneo cardíaco após a parada por FV e RCP.


Após a parada cardíaca por FV, o sangue do sistema arterial (alta pressão) muda para o sistema venoso de baixa pressão, resultando em diminuição do volume ventricular esquerdo, e em aumento acentuado no volume ventricular direito com restrição pericárdica. As compressões torácicas diminuem a restrição pericárdica para profundir o coração e o cérebro, aumentando a possibilidade de obter a perfusão e, com isso, possibilitando um ritmo cardíaco após a desfibrilação. Essas mudanças de volume foram demonstradas por Dr. Steen em suínos com tórax aberto, e foi possível avaliar as mudanças do volume ventricular, com ressonância magnética no tórax fechado de suínos. Foi possível confirmar o aumento acentuado do volume de sangue no VD após a parada cardíaca, o que pode contribuir para a constrição pericárdica após parada cardíaca não tratada com efetividade.


RCP-SC é a indicada para parada cardíaca primária

Fundamentado nos estudos de ressuscitação para parada cardíaca primária, em 2002 em Tucson, se concluiu de forma consciente que era possível continuar seguindo as diretrizes AHA para RCP/DEA e cuidados em emergências cardíacas (ECC).


Em 2004, numa ação cooperada com o Centro de Trauma do Departamento de Serviços de Saúde do Arizona (Diretor Médico Bentley Bobrow, M.D.), teve início uma campanha para incentivar a divulgação e treino da RCP-SC para paradas cardíacas primárias. A campanha incluía as donas de casa, estudantes de medicina e alguns paramédicos do Arizona. Os kits de treinamento foram desenvolvidos pelo Dr. Bobrow e seus associados, e foram enviados a colégios públicos, e divulgados por meio de comerciais de rádio e TV, com endosso de celebridades. No processo, foi produzido um vídeo para demonstrar as técnicas ao público leigo. Em 2016, mais de 10 milhões de pessoas já haviam assistido ao vídeo.


No Arizona foram publicados em 2010 os argumentos e os índices (Fig. 2) que defendiam adotar a técnica e a ensinar a RCP-SC para vítimas em parada cardíaca primária. A porcentagem de indivíduos leigos que aplicaram a RCP-SC no Arizona aumentou consideravelmente, passando de aproximadamente 20% em 2006, para cerca de 45% nos anos de 2007 e 2008 e, para aproximadamente 75% durante 2008 e 2009.


Conforme mostrado na Figura 3, o subconjunto de vítimas em parada cardíaca testemunhada que tinham um ritmo chocável apresentou a taxa de sobrevivência de 34% para aqueles que receberam RCP-SC e de 18% para os que receberam a RCP com as diretrizes da AHA. A sobrevivência de vítimas em parada não-cardíaca foi de 2,7% para os que receberam a RCP-SC, versus 3,8% dos que receberam a RCP com as diretrizes da AHA.

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Figura 3. A sobrevivência de PCREH no Arizona, antes e depois de a RCP-SC ser ensinada.


Nos estudos feitos no Arizona, a taxa de sobrevivência de 7,8% de todas as vítimas em PCREH que receberam a RCP-C não foi significativamente diferente da taxa de sobrevivência de 7,6% para todas as vítimas em PCREH atendidas com a RCP das diretrizes AHA entre 1950 e 2008, segundo os relatos por Sasson & Associados. A taxa de sobrevivência de vítimas em PCREH testemunhada e com ritmo chocável de 17,7% atendidas com RCP-C foi a mesma taxa de sobrevivência global de vítimas em PCREH secundária seguida da FV nos EUA, segundos os relatos de Riva & Associados. Riva & Associados relataram recentemente que na Suécia, nos últimos 15 anos, houve um aumento significativo nas taxas dos atendimentos com a RCP aplicada por pessoa que testemunhou um adulto colapsar subitamente.


A ventilação NÃO é necessária para vítima em parada cardíaca primária


Uma grande preocupação com a RCP-SC para vítima em parada cardíaca primária foi a falta da ventilação. Mathias Zuercher, M.D., um anestesista acadêmico da Suíça, ao longo dos anos passou suas férias no Arizona e, quando lá estava, participava de forma sabática nas pesquisas de Ressuscitação em Tucson. Em um experimento com vítima em FV, o sangue arterial foi medido no início, e depois duas vezes durante a RCP-SC e oxigenação passiva, e duas vezes durante a ventilação. No ritmo sinusal, o gás sanguíneo arterial foi de 85 mmHg ou 97% de saturação e caiu apenas 70 mmHg ou 93% de saturação após 9,5 minutos decorridos da FV não tratada. O motivo da estabilidade relativa da saturação do sangue arterial foi que, após a parada cardíaca primária, o sangue restante no sistema arterial ainda estava adequadamente saturado com oxigênio. No entanto, após o início do RCP-SC, a saturação de sangue arterial diminuiu para 44 mmHg ou 61% de saturação após 14 minutos e para 31 mmHg ou 34% de saturação 16 minutos após a parada cardíaca primária.


Surgiu então a questão: “a baixa oxigenação arterial é prejudicial”?  A resposta foi encontrada na pesquisa com indivíduos que escalavam o Monte Everest. Em um relatório, um desses indivíduos apresentava uma saturação arterial de 34%. Assim, ficou concluído que as saturações baixas, como 34% durante longos períodos, são compatíveis com a vida humana. No Arizona, ficou revelado que o subconjunto de vítimas em PCREH testemunhado e com ritmo chocável tratado com RCP-SC apresentaram uma taxa de sobrevivência melhor do que aquelas tratadas com a RPC-C que recomenda insuflações BAB que, além de atrasar as compressões torácicas, interrompem por tempo prolongado. Na sequência, a RCP-SC defendida no Arizona para vítimas com parada cardíaca primária, ficou revelado que a sobrevivência aumentou para 33,7% nas vítimas atendidas com a RCP-SC aplicada por testemunha, comparado com 17,7% no subconjunto atendido com a RCP-C. O interesse do estudo era demonstrar que a taxa de sobrevivência de 17,7% na parada por FV atendida com a RCP-C e CCE era exatamente a mesma que a taxa de sobrevivência de 17,7% nos EUA entre 1980 e 2003, relatada por Riva & Associados.


A RCC modificou os protocolos dos paramédicos

A ressuscitação cárdio-cerebral alterou significativamente o protocolo para os paramédicos (Fig. 4). A intubação endotraqueal imediata foi atrasada para seguir a recomendação de, no início do atendimento, um paramédico aplicar 200 compressões ininterruptas, antes e imediatamente após um choque único, quando indicado. Um segundo paramédico abre as vias aéreas e fornece oxigênio de alto fluxo com ventilação passiva. Retardar a intubação endotraqueal foi uma recomendação que resultou das observações sobre o atraso que essa manobra provocava para iniciar as compressões e para evitar as interrupções prolongadas das compressões torácicas por anestesistas, durante a parada cardíaca no hospital. Conforme mostrado na Fig. 3, as compressões torácicas contínuas, antes e depois de uma desfibrilação, devem ser repetidas até que um ritmo de perfusão seja obtido ou uma série de quatro conjuntos de compressões torácicas contínuas tenham sido concluídos. Outro componente foi a administração adrenalina.

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Figura 4. Protocolo de RCC para os paramédicos do Resgate, em Tucson (AZ, EUA).


A insuflação com pressão positiva pode ser prejudicial durante a ressuscitação

Existem outros benefícios da ventilação passiva durante a ressuscitação, após a parada cardíaca primária? O Dr. Thomas Aufderheide & Associados fizeram importantes contribuições para a pesquisa da RCP, incluindo reconhecer que a hiperventilação durante os esforços de ressuscitação pelo pessoal do Resgate era comum. A frequência de ventilações com força imoderada, com pressão positiva, era prejudicial durante as ações de ressuscitação, uma vez que provocavam aumentos excessivos nas pressões intratorácicas, diminuindo com isso o retorno venoso ao tórax e assim, prejudicando o resultado cardíaco subsequente.


Ressuscitação cárdio-cerebral melhorou a sobrevivência

O componente "comunidade" da RCC demostrou, no Arizona, melhorar a sobrevivência e os componentes "pré-hospitalares" da RCC melhoraram a sobrevivência (Fig. 5) em cada contexto em foi instituída; primeiro em Rock e Walworth (WI,), em Kansas City (MO,) e no Arizona.

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Figura 5. A sobrevivência de vítima de PCREH com ritmo chocável melhorou nos contextos em que os protocolos RCC para foram adotados pelo pessoal do Resgate.


As colunas escuras indicam a porcentagem de sobrevivência das vítimas em PCREH com ritmo chocável, quando os paramédicos chegaram à cena e seguiram as diretrizes AHA. As colunas cinzentas indicam a porcentagem de sobrevivência em cada um desses contextos após a RCC aplicada pelos paramédicos do Resgate.

Uma revisão sistêmica e meta-análise relataram que em comparação com as diretrizes mais antigas, a RCC estava associada a um benefício de sobrevivência significativo, incluindo um aumento três vezes maior de sobrevida para vítimas em fibrilação ventricular testemunhada.

O componente "hospitalar" da RCC (Fig. 1), adicionado alguns anos depois, também foi mostrado no Arizona para ser associado com o aumento da sobrevivência global e resultado neurológico favorável.


ALTERNATIVAS

Desde 2009 há uma série de limitações relativas ao processo de “Diretrizes” para tratamento da parada cardíaca e RCP aplicada pelo pessoal do Resgate. Além disso, existem taxas de sobrevivência muito diferentes entre os diversos sistemas de Resgate que seguem as mesmas diretrizes. O ideal seria ter estudos controlados randomizados em humanos para todas as atualizações das diretrizes, mas isso provou ser quase impossível.

Portanto, uma abordagem alternativa para melhorar a sobrevivência é documentar resultados, fazer mudanças conscientes ​​com base em pesquisas e determinar se as mudanças melhoram a sobrevivência.


CONCLUSÃO

A ressuscitação cárdio-cerebral (RCC) é uma abordagem nova para atendimento de vítimas em PCREH primária, que demonstrou melhorar significativamente a sobrevida das vítimas em FV. O que se conclui é a necessidade de cada unidade de Resgate conhecer a taxa de sobrevivência das vítimas que atendem em parada cardíaca primária com ritmo chocável, pois as taxas variam significativamente de um contexto para outro e de uma agência de Resgate para outra. No caso de parada cardíaca secundária, devido a insuficiência respiratória, como nos casos de afogamento ou overdose de drogas, o indicado é a testemunha aplicar imediatamente insuflações BAB, antes que venha ocorrer a parada cardíaca, e então, se o coração parar, aí sim aplicar a RCP-C (30 compressões torácicas e as 2 ventilações em não mais que 10 segundos).


SIGLAS ADOTADAS

AHA – American Heart Association

BAB – Insuflação boca-a-boca

BVM – Breath Valve Mask (máscara auto inflável)

CCE – Cuidados Cardíacos de Emergência

DEA – Desfibrilador Externo Automático

FV – Fibrilação Ventricular

OHCA – Out of Hospital Cardiac Arrest

PCREH – Parada cardiorrespiratória extra-hospital

PCRIH – Parada cardiorrespiratória intra-hospital

RCC - Ressuscitação Cárdio-cerebral

RCP – Ressuscitação Cardiopulmonar

RCP-C – RCP Convencional

RCP-BS – RCP-By Standard (ajuda de testemunha)

RCP-T – Instrução da RCP repassada por telefone

RCP-SC – RCP Só-compressão

SBV – Suporte Básico de Vida

TV – Taquicardia Ventricular

UTI – Unidade de Tratamento Intensivo

VD – Ventrículo Direito

VE – Ventrículo Esquerdo

 

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