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DESASTRES E A SOCIOLOGIA *

  • Foto do escritor: Jornal da Gestão de Emergências
    Jornal da Gestão de Emergências
  • 2 de fev. de 2024
  • 3 min de leitura

A sociologia tem analisado as relações culturais e os processos de interação entre o homem, seus empreendimentos, seus erros, falhas e paixões, dentro do ambiente físico em que vive.


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As atenções aos desastres antropogênicos, a partir da segunda década do século 20, estiveram sob o domínio do binômio Saúde & Segurança do Trabalho, enquanto no mesmo período, as catástrofes de causas naturais ficaram sob a salvaguarda da Defesa Civil. Porém, logo no início do século 21 ficou evidenciado que eventos indesejáveis, tanto de causas naturais como antropogênicos, podem impactar à revelia e a despeito de toda segurança. Essa constatação causou constrangimento e até mesmo resistência dos gestores em aceitar esse axioma.


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Para convencer e esclarecer as percepções o primeiro passo foi reiterar que Segurança é um processo que está diretamente relacionado à Engenharia e, que a Saúde Laboral está diretamente relacionada à Medicina, independentemente do tipo de ambiente empresarial.



A partir daí se colocou em perspectiva os eventos inesperados que transgridam essas duas premissas, ou seja, enquanto Segurança e Saúde são responsabilidades empresariais, no âmbito privado, as emergências são de domínio público, elencadas, portanto no processo social. Essa percepção colocou de uma vez a Sociologia a substituir a Engenharia e Medicina como ciências que até então ocupavam nos meios empresariais a função de “explicar” a natureza dos episódios socialmente perturbadores, sem que houvesse efetivamente planejamento estratégico a propor táticas efetivas para responder e recuperar dos impactos.


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Nesse aspecto é importante reiterar que os profissionais da Saúde e da Segurança laboral operam sob critérios metódicos e realizam sistemáticas medições, tanto para avaliar a qualidade ambiental do trabalho como para aferir parâmetros vitais que indicam a qualidade de saúde dos trabalhadores.


Essas especializações sistematizadas para mensurar as atividades laborais planejadas diferem substancialmente das habilidades profissionais necessárias para lidar com o caos provocado por eventos não-planejados, como as emergêncais e desastres. Para lidar com eventos inesperados o tipo de planejamento difere substancialmente da forma de se lidar com as atividades de rotina. Emergências e desastres subvertem os métodos adotados para se manter os padrões das atividades sistematizadas. Então os ataques terroristas às Torres Gêmeas de Nova Iorque, chamaram atenção dos governos como evento social surpreendente e, de pronto, cientistas sociais ao redor do globo se reuniram ao redor de considerações que, como primeira medida, trouxeram, soluções para que as telecomunicações passassem a integrar fatores de inteligência e interoperabilidade, em associação com uma proposta audaciosa, mas inequívoca, de que toda a população deveria ser não apenas parte dos problemas trazidos com os desastres, mas principalmente das soluções.


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O evento que atingiu o coração financeiro dos EUA, da nação mais segura do mundo, modificou o comportamento declarando “guerra” a grupos sem uniforme, sem hierarquia de comando, sem uma nação definida e sem direitos ao que estava elencado no Acordo de Genebra.


A Guerra ao Terror viria a modificar inclusive as relações sociais internas nos EUA. As tecnologias de comunicação foram aprimoradas para cruzar informações estratégicas ao redor do globo. No entanto, apesar da forte organização de práticas e movimentos globais, a garantia de evitar desastres não encontrou um ponto comum. Por isso diferentes esforços estão sendo direcionados para coadunar a divergência que perdura no meio científico sobre o efetivo resultado dessa mobilização social para solucionar o que se considera estar diretamente relacionado às especificidades das culturas em cada localidade.


Frederick Buttel (2000), sociólogo ambientalista, argumentou com ampla disseminação a preocupação dos setores da sociedade civil e dos governos, uma vez que os debates não geraram um consenso em torno de soluções únicas, mas ao contrário; à medida em que foram aprofundando as percepções, as argumentações se ampliaram e foi sendo constatado que as soluções não viriam de cima, mas sim a recair sobre cada pessoa, ou seja, todos os indivíduos deveriam ser tanto parte do problema em uma unidade doméstica. Neste sentido, as atuais formas de interpretar as ameaças e os efeitos de impactos sobre as populações representam um dos mais, se não o mais, complexo dilema. Assim, nesta mesma direção, os desastres passaram a exigir da Teoria Social um engajamento, com dedicação para explicar as idiossincrasias dos elementos que compõe os diferentes desafios, tanto de causas naturais, como antropogênicos e tecnológicos.

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