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CIÊNCIA DAS EMERGÊNCIAS: PARTE #01

FATORES PARA CATEGORIZAR IMPACTOS

A referência semântica para categorizar impactos precisa encontrar critérios consensuais para definir uma gradação de magnitudes e tipos de resposta.

Em vez de critérios linguísticos meticulosos tem sido as emoções a descrever os impactos.


ENQUADRAMENTO

A semântica é a área da linguística que estuda o significado em relação ao significante. O significado está associado ao sentido e, portanto ao conteúdo e ao contexto; é um tipo de referência que estabelece uma relação de adequação entre a expressão e o objeto/evento que se quer referir, independentemente da intenção referencial do falante.

No senso popular, pessoas tendem a descrever a magnitude de impactos compelidas pelo sentimento que experimentaram ao testemunhar, e usam palavras fortes para retratar, de forma a provocar emoção nos ouvintes. A própria mídia lança mão desse expediente.

  

TERMINOLOGIA DA CIÊNCIA

As concepções epistemológicas nos conduzem a refletir sobre o aprimoramento da Ciência das Emergências no sentido de se produzir o conhecimento. Esse desafio implica no emprego de termos que categoricamente expressem, sem paixão, o que de fato está sendo colocado em perspectiva dos estudos. Neste nexo é necessário categorizar os eventos a partir de uma interpretação sistematizada que requer a formulação de princípios.

Os autores que contribuem na estruturação do léxico da Ciência das Emergências, que estão a propor o âmbito que a Gestão de Emergências precisa atingir para engajar o discurso, tomam como base princípios já estabelecidos, inconsistentes, que não alcançam o rigor do objetivo.


REVISÃO DAS DENOMINAÇÕES

Um processo para categorizar impactos por meio de vocabulário assertivo, está sendo amparado pelo JGE para ser adotado por pessoas, organizações e governos. Por exemplo, na acepção do termo, “emergência” define algo inesperado, que “emerge” que se mostra à luz, e, para o qual é preciso identificar a natureza do que é, de forma a que se possa estabelecer uma conduta. Então a palavra emergência pode tanto expressar uma coisa boa como uma ruim.


NO ÂMBITO POPULAR

O termo emergência é empregado para descrever algo surpreendente com nítida acepção funesta. Mas há de se convir que por outro lado essa palavra pode indicar coisas boas. Por exemplo, se um arqueólogo subaquático estiver a pesquisar a localização de um naufrágio do século XV, e no contexto das investigações subitamente deparar com vestígio de outra embarcação soçobrada, sem registro, o que se desvelou foi auspicioso e não funesto.


BOM OU MAU

Para essa amplitude de abordagem não há uma definição que permita, com certeza, identificar a natureza do evento por antecipação. Então, para lidar com emergências de quaisquer naturezas a orientação é observar os históricos de ocorrências similares e fazer projeções de possíveis ou prováveis reincidências. Com base nas previsões de emergências potenciais os gestores devem focar, se for no sentido de impacto, na mitigação dos riscos analisados em relação aos perigos de causarem perturbações, e daí determinar as vulnerabilidades, preparando recursos à altura do desafio para responder a anomalias que não puderem ser mitigadas ou evitadas.


Os vocábulos como “estado de emergência”, “situação de emergência”, estado de calamidade” são empregados por autoridades governamentais ao decretarem alteração na ordem pública. Esses decretos são pronunciados de forma intempestiva e com a finalidade precípua de dar autorização a aquisições de insumos ou de serviços sem ser necessário fazer licitação, devido a exiguidade de tempo-resposta. As justificativas legais subjacentes a essas outorgas amparam não apenas as boas intenções do legislador, mas também criam oportunidade para  que políticos oportunistas e gestores inescrupulosos tirem proveito pecuniário.


EVENTOS INDESEJÁVEIS

A exemplo das enchentes e incêndios florestais, são bem conhecidos e têm a prevalência de ocorrerem em áreas habituais durante estações climáticas propensas. Então, a alegação de serem “fenômenos surpreendentes”, acontecimentos inesperados, imprevisíveis, não se aplicam e, melhor, evidenciam existir problemas morais, desonestidade e ausência de doutrinas balizadoras. É para formular princípios consistentes que o JGE está a argumentar.


REVISANDO A ESTRUTURA ARGUMENTAL

Em www.linguagem.org, encontramos no artigo “Semântica Lexical” amparo ao argumento do JGE no que se refere a estudos da língua, que pode ser o nome de uma teoria específica dentro dessa mesma área de aprendizado e análises semântico-lexical. Letícia Meireles, da Universidade Federal de Minas Gerais, nos auxilia ao complementar que, “como área do conhecimento, a Semântica Lexical indica qualquer tipo de estudo linguístico que foque no significado das palavras das línguas” e acrescenta que, “o vocabulário de uma língua é também chamado de “léxico”, por isso o estudo da semântica é chamado de “semântica lexical”.


REVISANDO OUTROS TERMOS RELACIONADOS AO CONTEXTO

  • O termo “desastre” tem sido adotado para descrever um impacto que cause perdas de vida, de tempo, dinheiro, propriedade, meios de produção ou um conjunto desses elementos. Um desastre é a referência consolidada da visão dos danos e sofrimentos que já estão em curso. 

  • O termo “catástrofe” tem sido adotado como um adjetivo superlativo aplicado tanto a emergências como a desastres, para descrever a amplitude do sofrimento e danos.

  • O termo “calamidade” tem sido adotado para descrever um aumentativo superlativo absoluto de catástrofe, como um impacto que produza grandes perdas, imensos danos, desgraça, destruição, que atinja vastas áreas ou morte de muitas pessoas.

  • No sentido figurado "calamidade" descreve infortúnio ou infelicidade atroz.


CONSENSO POPULAR

É possível afirmar que há um consenso no uso desses verbetes, mas que não há um padrão metodológico que tenha sido adotado para definir quando empregar um ou outro termo, considerando que essas palavras não sustentam o imperativo humanitário de suas designações semânticas. Não há primazia na seleção do método para prevenir ou aliviar os efeitos de impactos, seja lá sob quaisquer denominações lexicais, no que diz respeito ao sofrimento humano decorrente de conflitos ou de “calamidades, catástrofes, desastres e emergências”, concluindo que as populações afetadas têm o direito à proteção e assistência sob um Código de Conduta que reúna os preceitos éticos, valores e princípios humanitários.


REVISANDO OS PRINCÍPIOS HUMANITÁRIOS

A semântica lexical precisa cooperar.

É na crença humanitária que estão embasados os Direitos Humanos e, é neste princípio que está implícito oferecer os serviços das agências, com imparcialidade e sem oportunismo recalcitrante.

Um exemplo é o Código de Conduta da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.


Reiteradamente o JGE tem publicado matérias e artigos com temas voltados a despertar discussões e direcioná-las para se obter definições e denominar impactos com método e rigor, considerando a natureza e magnitude dos eventos, em vez de tergiversar com artifícios linguísticos para disfarçar o situacionismo. Um exemplo da importância de se estabelecer um padrão significante para se descrever o que é “emergência, desastre, catástrofe, calamidade” pode ser obtido ao se perguntar a pessoas nas ruas, nas empresas e mesmo dentro de órgãos de governo, o que entendem sobre a diferença pontual desses verbetes. Indistintamente, veremos que embora exista consenso popular de ser algo maléfico, as pessoas não conseguirão determinar quais os recursos, tempo-resposta e métodos de recuperação devem ser utilizados para diferenciar uma condição da outra. Simples assim.


CONSENSO DAS DENOMINAÇÕES

Reiterando que o termo emergência descreve o inesperado, e para controlar o imprevisto há que se perceber o que é, para daí movimentar recursos e/ou direcionar aportes financeiros imediatos para comprar insumos e serviços a qualquer preço: “tudo em benefício de tudo”; ou seja, são aquelas contumazes "justificativas injustificáveis".


O termo desastre descreve a condição em que os recursos de uma organização ou agência não deram conta de controlar a emergência e, então, ajuda adicional externa precisa ser acionada para integrar os esforços voltados a recuperar do impacto desastroso. A partir daí, o episódio fica caracterizado como desastre, pois os danos já ocorreram em magnitude que superou a capacidade orgânica da etapa de resposta, e por isso a integração de reforços precisa ser direcionada as ações da etapa de recuperação (do desastre).


A etapa da resposta corresponde ao controle da emergência.

Esforços cooperados correspondem a etapa da recuperação.


Em síntese, são as emergências que precisam ser controladas com recursos próprios, dimensionados para lidar com as ameaças potenciais. E, o termo desastre é atribuído quando equipes diferentes integram o Sistema de Coordenação e Comando (SCC). 


  • O termo catástrofe refere a condição em que a recuperação do desastre assumiu nível de espetáculo, com ativação de todos os elementos do SCC e, a difusão midiática torna o evento um tipo de atração popular com potencial de alcançar divulgação mundial.

  • O termo tragédia tem uma conotação mais teatral, do gênero dramático. É empregado muitas vezes como sinônimo de adversidade, infortúnio, fatalidade, em que figuram os heróis, ou para suscitar o terror ou a piedade em relação aos problemas humanos de natureza grave, como nos eventos comovedores em que o personagem principal é morto por erro ou paixão.

  • O termo calamidade é empregado para descrever perdas de grandes proporções, mudança brusca e radical na vida das pessoas por convulsão social, transformação da crosta, dilúvio.

  • O vocábulo Calamidade Pública é referência da Defesa Civil (SEDEC) para designar a condição em que fenômenos perturbadores atingem vasta área ambiental e/ou grande número de pessoas e valores culturais, como tsunamis, terremotos, epidemias e pragas.


A CONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA

Os autores dedicados a aprimorar as referências lexicais para a Ciência das Emergências vêm equacionando e buscando estabelecer critérios para melhor definir determinados eventos, tanto em verbetes como em vocábulos. É importante reiterar determinadas definições, por exemplo, uma palavra, pois ela pode ter múltiplos sentidos, como em um dicionário. Um termo, indica uma palavra contextualizada no discurso, tendo uma referência, ou um princípio definido para a interpretação. Um verbete é um texto escrito, de caráter informativo, destinado a explicar um conceito segundo padrões descritivos sistemáticos, determinados por uma obra de referência. Geralmente, os verbetes abordam conceitos em um paradigma acadêmico-científico, evitando polêmicas referentes a categorias teóricas. O verbete, como componente de uma obra de referência, é destinado a um leitor universal. Assim, é importante definir os verbetes nos contextos da Ciência das Emergências, pois ainda se apresentam como um conjunto epistemológico obscuro ou complexo. Portanto, o princípio que norteia a própria existência do verbete prega que o conhecimento seja acessível a todos indivíduos dotados de razão lógica.


A DETERMINAÇÃO DO JGE

Fatores determinantes estão sendo adotados e publicados pelo JGE para contribuir com a construção lexical desambiguada e irrefutável da Ciência das Emergências e da disciplina Gestão de Emergências, de forma a organizar a estrutura conceitual e a definição de termos, vocábulos e verbetes. Cada uma das partes que fazem referência ao conjunto de saberes, não possuindo a capacidade de formar um enunciado, são unificadas dando origem a vocábulos a serem empregados nas práticas, como por exemplo: “períodos operacionais”, “expansão espacial”, “autoridades multijurisdicionais”, “recursos ativados”, “terminologia padronizada”, “instalações na cena” e outros que ao se reunirem são convertidos em vocabulário profícuo.


As discussões e proposições melhoram as comunicações em emergências e desastres.


Leia no JGE (19 Jan 2024): A SEMÂNTICA E O PENSAMENTO


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